Empresa da Brumadinho calculou número de mortos e causas para possível derrocada da barragem

A empresa mineira Vale nega que documento interno mostrasse risco iminente. Estudo previa "mais de cem mortes" - morreram 165 pessoas e 155 desapareceram.

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O Ministério Público acusa a Vale e pede obras imediatas noutras barragens WASHINGTON ALVES/Reuters

A empresa mineira Vale sabia que a barragem de Brumadinho, cujo colapso, em Janeiro, deixou 165 mortos e 155 desaparecidos, tinha um “risco de ruptura”, acusou esta quarta-feira o Ministério Público brasileiro.

A Vale, que é a maior produtora de ferro do mundo, tinha conhecimento deste risco desde pelo menos Outubro de 2018, disse o Ministério Público com base em documentos da própria empresa, que tinha incluído nos relatórios a barragem de Brumadinho, assim como outras nove estruturas em Minas Gerais, mas apesar disso, classificou-as como seguras.

A Vale nega as acusações, segundo as quais o gabinete de gestão de risco geotécnico da empresa tinha enquadrado dez entre 57 barragens avaliadas numa chamada Zona de Atenção (Alarp Zone), um dos graus de uma escala usada internacionalmente para medir o quão aceitáveis são os riscos de uma barragem.

Estruturas enquadradas na Alarp Zone são aquelas em que o risco é tolerável apenas se a redução for impraticável ou se o custo for desproporcional à melhoria obtida, explica o jornal O Dia.

O documento interno, acrescenta o diário Folha de São Paulo, estimava quanto custaria, quantas pessoas morreriam e qual seria a causa de um colapso.

O estudo previa “mais de cem mortes”, num cenário de acidente durante o dia (como aconteceu). O cenário previa o funcionamento das sirenes, o que não aconteceu no dia do desastre, porque foram “engolidas pela lama”, o que, para o MP, mostra “a absoluta necessidade de adopção de medidas imediatas”.

A empresa nega que a barragem estivesse em risco iminente e diz que já estava a fazer obras de manutenção. À Folha de São Paulo, a Vale explicou que é sempre necessário fazer exercícios com base em cenários hipotéticos.

A Vale acrescentou que a barragem em causa estava "com o seu nível de segurança acima daquele que é o recomendado pela legislação". “Tínhamos relatórios de estabilidade que indicavam claramente que não havia risco iminente na barragem, que esta estava estável. Não havia sinais de problemas", disse Lúcio Cavalli, gestor executivo de Planeamento e Desenvolvimento de ferro e carvão da Vale, em conferência de imprensa no Rio de Janeiro.

Além da acusação, o Ministério Público pede no processo rapidez à empresa em obras nas outras nove barragens consideradas em risco. Segundo a própria Vale, a possibilidade de problemas na barragem de Brumadinho era de 0,02%. Em comparação com as outras consideradas problemáticas, essa estrutura era a que a tinha o menor risco. Em três barragens de Nova Lima, na região de Belo Horizonte, o risco é de 0,1%, cinco vezes maior.

Na segunda-feira, a Agência Nacional de Mineração do Brasil (ANM) informou que as empresas mineiras terão de realizar inspecções diárias em barragens "de rejeição" como a de Brumadinho. Estas barragens são feitas com o método mais simples e também o menos seguro, que é construir degraus com os próprios resíduos.

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