Mais de 80% dos farmacêuticos conseguem emprego na área em três meses

Retrato sobre a empregabilidade dos farmacêuticos mostra ainda que a taxa de desemprego geral entre estes profissionais é 4,4%. E o valor desce quando se trata de farmacêuticos jovens.

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Rui Gaudêncio

Uma grande fatia dos profissionais, 82,1%, demorou até três meses para entrar no mercado de trabalho farmacêutico após terminarem a formação académica, revela um inquérito feito pela Ordem dos Farmacêuticos. O estudo, que é apresentado esta terça-feira em Lisboa, mostra ainda que a taxa de desemprego geral entre estes profissionais é de 4,4% e o valor desce quando se trata de farmacêuticos jovens.

O inquérito, feito por telefone a 1502 farmacêuticos, decorreu em Outubro do ano passado. O estudo foi realizado em colaboração com a empresa de investigação aplicada Spirituc e apresenta um intervalo de confiança de 95%. Carlos Afonso, coordenador do Observatório da Empregabilidade no Sector Farmacêutico, explica ao PÚBLICO que o estudo “é representativo da profissão”.

O objectivo, adianta, “foi averiguar aspectos relacionados com a satisfação profissional e de formação e dar indicações de áreas mais críticas onde se possa actuar”. Os resultados, resume o também professor da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, “foram positivos”. Apesar de ser um sector ainda em recuperação.

“O tempo decorrido entre o final do mestrado integrado e a inserção no mercado de trabalho é muito positivo: 82,1% demora até três meses a entrar no mercado de trabalho. É superior ao que esperava.” Carlos Afonso considera que este dado “está ligado em parte ao facto de a taxa de desemprego entre os profissionais com menos de 30 anos ser de 2,8%, que é mais uma informação positiva”. Valor que extrapolado para os 4371 profissionais inscritos na Ordem com menos de 30 anos representa 122 pessoas.

Ainda assim o estudo, a que o PÚBLICO teve acesso, reconhece que “os farmacêuticos mais jovens têm hoje maiores dificuldades de acesso ao mercado de trabalho do que as que foram sentidas pelos colegas das faixas etárias superiores”, ou seja que ingressaram na profissão antes. O inquérito também mostra que para 2,4% dos profissionais entrar no mercado de trabalho levou entre um e dois anos e que para 2,3% esse tempo foi superior a dois anos.

Mais desemprego no Norte

Também em termos gerais, a taxa de desemprego é satisfatória. O inquérito relevou que está nos 4,4%, “valor inferior à média nacional”, que em Agosto estava nos 6,8%, salienta o estudo. Extrapolado para os 18.073 inscritos na Ordem dos Farmacêuticos em 2017, os 4,4% representam 795 pessoas, segundo contas da Ordem. Um número de desempregados superior ao que estava no relatório de actividades referente a 2017, mas que a Ordem admitia então estar subnotificado.

Um dado que surpreendeu Carlos Afonso foi o peso do desemprego nas diferentes regiões. “Dentro dos desempregados, quando vemos por área de residência, 60% estão no Norte, 9% no Centro e Sul e 14% na área metropolitana de Lisboa. Os dados do Norte surpreenderam-nos. Intuímos dois factores que podem justificar pelo menos em parte este valor: o emprego na indústria tem crescido essencialmente a Sul e é onde também têm surgido novas áreas profissionais relacionadas com marketing e gestão e investigação.”

Embora o Observatório ainda esteja a trabalhar os dados com maior detalhe, Carlos Afonso admite uma melhoria, mas não o fim dos problemas. “Um dado menos positivo é a percentagem de farmacêuticos a receber salários mais baixos. O valor médio é de 1500 euros brutos mensais, mas temos uma percentagem muito grande a ganhar entre os 1000 e os 1300 euros”, refere o responsável.

Segundo os dados recolhidos, 46,3% dos profissionais com menos de 30 anos está entre estes vencimentos e 19,3% ganha entre 750 euros e 1000 euros brutos. “Isto mostra que o sector não está muito saudável, particularmente na farmácia comunitária”, que continua a ser a área que mais emprega farmacêuticos.

De uma forma geral, os farmacêuticos estão satisfeitos com a profissão e cerca de 70% conseguiram trabalho na área que desejavam. Os restantes 30% atribuíram essa dificuldade “ao facto de o emprego não ter por vezes a qualidade que seria de desejar, não tinham a experiência profissional necessária e a oferta de trabalho não ser na área de residência”, explica Carlos Afonso.

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