Rede 8 de Março organiza "protestos ruidosos" contra violência doméstica em cinco cidades

Para as activistas, os dados sobre violência no namoro "revelam que os comportamentos abusivos começam desde muito cedo". "Levantamos a voz ruidosamente, porque não aguentamos o silêncio."

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Nelson Garrido

A Rede 8 de Março, um colectivo de organizações feministas, vai organizar no dia 14 de Fevereiro, Dia dos Namorados, "protestos ruidosos" em cinco cidades do país, contra o silenciamento da violência doméstica, pelas vítimas, mas também contra a violência no namoro.

Em comunicado, a Rede 8 de Março​ anuncia que estão marcadas acções de protesto em Braga, Porto, Aveiro, Coimbra e Lisboa, sendo que no Porto haverá uma acção de sensibilização e de visibilização sobre violência doméstica, "por todas [as mulheres] que tombaram, por todas as que sobreviveram, por todas as que vivem este inferno".

O colectivo de organizações feministas lembra que quinta-feira é o Dia dos Namorados e aponta que estudos sobre violência no namoro realizados nos últimos anos demonstram que "uma parte significativa dos e das jovens não reconhece situações tipificadas como violência", alertando que "a violência se encontra ainda perfeitamente naturalizada e legitimada".

"É um sinal de alarme que deve soar bem alto, porque estes dados revelam que os comportamentos abusivos começam desde muito cedo", destacam, lembrando que desde o início deste ano já foram assassinadas 10 mulheres em Portugal.

Neste domingo, em Lisboa, mais de 400 pessoas marcharam em silêncio para expressar solidariedade para com "todos os gritos silenciosos" das vítimas de violência doméstica em Portugal. Também para o dia 9 de Março está marcada outra marcha silenciosa, sob o mote "Nós Por Elas", em Lisboa.

As activistas da Rede 8 de Março defendem que "nenhum país decente pode encolher os ombros perante uma tragédia que a cada dia soma mais vítimas" ou "pode considerar normal que 85% das queixas sejam arquivadas".

"Nenhum país decente pode aceitar que as mulheres sobreviventes que conseguem levar o seu caso a tribunal sejam humilhadas por juízes como Neto de Moura", criticam, referindo-se ao caso do magistrado do Tribunal da Relação do Porto, autor de um acórdão em que minimizou um caso de violência doméstica pelo facto de a mulher agredida ter mantido uma relação extra-conjugal, citando tradições bíblicas.

Apontam que, como parte do país, não se podem calar e que, por isso, levantam a voz para lembrar as vítimas, mas também as sobreviventes e para chamar a atenção e denunciar a naturalização e a legitimação da violência.

"Levantamos a voz para dizermos que não aceitamos nem Ministério Público e Polícia laxistas, nem Tribunais machistas. Levantamo-nos para exigir medidas de combate à violência", adiantam, acrescentando que "é urgente" uma aposta séria na formação e uma fiscalização à forma como a lei de prevenção e combate à violência doméstica é aplicada.

"Levantamos a voz ruidosamente, porque não aguentamos o silêncio", acrescentam.

A Plataforma Rede 8 de Março​ existe desde 2011 e integra mais de 30 associações e sindicatos. Neste momento, concentram-se no objectivo organizar uma greve feminista no Dia Internacional da Mulher, que se assinala no dia 8 de Março, com manifestações por todo o país, à semelhança do que aconteceu no ano passado em Espanha e um pouco por todo o mundo.

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