Cartas ao director

SNS: e o ensino dos médicos?

O SNS (Serviço Nacional de Saúde) anda nas bocas do mundo. A disputa está a fazer-se na discussão das diferentes propostas de Lei de Bases da Saúde, acusando-se uns aos outros de terem ideologia a mais ou de quererem mercantilizar um bem maior que é saúde dos cidadãos. Estes últimos à custa do financiamento pelo Estado do seu "negócio". O Sistema Nacional de Saúde deve comportar  o SNS, com privados complementarmente? Público, privado e misericórdias em plano de igualdade? Declaro-me desde já ao lado dos primeiros mas entendo o debate, que é necessariamente ideológico, pois daí nasce uma estrutura organizativa que pela ideologia é enformada.

Dito isto, há uma coisa de que quase nunca se fala: o ensino pós-graduado. É que discutir o acima dito pode ser válido no presente, com "a papinha feita", mas... e no futuro? Agora vai-se notando a deterioração do SNS pela debandada dos profissionais médicos para onde ganham mais, os hospitais privados, mas o tempo não pára e o ensino pós-graduado só é feito nos organismos públicos (hospitais e centros de saúde) e  assim de onde vão nascer as novas gerações bem preparadas que têm sido o suporte do óptimo SNS que (ainda...) vamos tendo? Por "partenogénese"? E não se pense que isto é por "monopólio de cartel" do Estado! É que ensinar custa tempo e dinheiro e, atrevo-me a dizer empenho solidário. E a medicina privada não quer estes custos e valores. Quer fazer bem, não duvido, mas socializando os custos e capitalizando os ganhos. Quem trata os que aí vêm no futuro?

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

O CDS não perdeu o meu voto

Será um bom serviço ao partido o cartaz do CDS para a campanha das eleições europeias? O slogan “A Europa é Aqui” acarreta, subliminarmente, o convite ao eleitor a alienar-se da questão europeia, a considerar que os nossos problemas é que importam, não os dos outros, ainda que também europeus. Não difere muito do “America first” de Trump, embora talvez mais civilizado. A frase ajusta que nem uma luva aos que se estão a borrifar para os problemas dos outros, europeus ou não. Diferente seria dizer “Aqui é Europa”, numa ideia de partilha de ideais.

O cartaz não terá a solidez do muro trumpiano, mas a ideia que inspira os isolacionistas é a mesma: enquanto não resolvermos os nossos problemas, os de todos os portugueses, não temos nada a fazer pelos outros. É a demonstração de um nacionalismo egoísta, da recusa de solidariedade, do desprezo pelo sofrimento do “outro”, desde que não seja português.

Acredito que, no eleitorado natural do CDS, haja muitos que não alinham nesse tipo de egoísmo, pelo que o partido talvez tenha sido pouco feliz com o slogan escolhido. Poderá, ao invés de ganhar votos, perder alguns. Não o meu, porque, já antes do cartaz, não tinha intenção de lho dar.

José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia

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