Na Polónia, Pence tenta dividir a Europa sobre o Irão

Conferência sobre o Médio Oriente em Varsóvia, que começa esta quarta-feira, não parece convencer os mais importantes países europeus.

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Mike Pence irá falar na conferência em Varsóvia. "Quem não participar nem sabe o que perde", disse responsável americano sob anonimato ERIK S. LESSER/EPA

No melhor dos casos, será uma perda de tempo, no pior, uma provocação, resumia no Financial Times a directora-adjunta Roula Khalaf sobre a conferência que EUA e Polónia organizam em Varsóvia sobre o Médio Oriente – na verdade, sobre o Irão.

O site Politico resumia antes assim: “Isto é Varsóvia e Washington contra os grandes poderes da União Europeia”, e uma tentativa dos EUA de “explorarem as divisões europeias em termos de política externa no processo”.

A conferência, que terá um discurso do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, e participação do secretário de Estado Mike Pompeo (que co-organizou a reunião), acabou por mudar de nome depois de críticas ao foco no Irão (que não foi convidado). O ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif, classificou mesmo o encontro como “um circo anti-Irão”.

Agora intitulada “Promover um Futuro de Paz e Segurança no Médio Oriente”, a conferência terá a participação de 60 países, incluindo Israel (o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu estará presente), segundo os organizadores.

A grande incógnita ainda na véspera era que delegações seriam enviadas por uma série de países europeus. A alta-representante para a Política Externa da União Europeia, Federica Mogherini, não vai estar presente na conferência de Varsóvia, invocando um “calendário preenchido”. Pompeo encontrar-se-á com a representante em Bruxelas antes de regressar aos EUA. Até agora, apenas o ministro britânico Jeremy Hunt confirmou a presença, deixando claro que a sua prioridade era falar do conflito no Iémen.

Várias capitais, como Londres, Paris ou Berlim, estavam muito desagradadas com a retirada dos EUA de um acordo sobre o nuclear iraniano também assinado pela União Europeia em 2015, durante a Administração Obama, e que para Bruxelas era o melhor meio de manter o Irão afastado de ambições nucleares militares.

Os EUA voltaram a impor sanções, que estão a prejudicar a economia iraniana, com inflação galopante e ocasional ruptura de stocks de produtos alimentares. A União Europeia tenta salvar o acordo, e Reino Unido, França e Alemanha lançaram um mecanismo para permitir fluxos financeiros sem violar as sanções americanas, para tentar manter o acordo.

A ideia é começar por facilitar entregas humanitárias, que não seriam afectadas pelas sanções, e ir progressivamente alargando a produtos dentro das restrições.

Os EUA têm aumentado a pressão sobre as empresas europeias, ameaçando retaliar contra empresas que tenham ligações comerciais com o Irão.

A tensão Teerão-Washington teve um pico esta semana, com um comandante da República Islâmica a prometer “arrasar Telavive” se os EUA atacarem o Irão, e Israel a ripostar que se o fizer, “este será o último aniversário” que a República Islâmica comemoraria (na segunda-feira o país assinalou 40 anos de Revolução Islâmica).

“Pensamos que quem decidir não participar nem sabe o que perde”, disse um responsável norte-americano, sob anonimato, num briefing do Departamento de Estado.

O conselheiro de Trump (e seu genro) Jared Kushner também deverá fazer um discurso sobre o plano que se espera que apresente sobre o conflito israelo-palestiniano que ficou conhecido pelas palavras de Trump sobre ele, o “acordo do século”. A Administração Trump tem adiado a sua divulgação, a última vez por causa das eleições israelitas de Abril.

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