Paulo Pereira Cristóvão e Mustafá em silêncio em tribunal

Repetição do julgamento relacionado com assaltos violentos a residências começou. Há três polícias no banco dos réus, incluindo uma mullher.

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Paulo Pereira Cristóvão Helder Olino

O ex-inspector da Polícia Judiciária Paulo Pereira Cristóvão e o líder da claque Juventude Leonina Nuno Vieira Mendes, conhecido como Mustafá, remeteram-se esta segunda-feira ao silêncio no início da repetição do julgamento relacionado com assaltos violentos a residências.

Os 17 arguidos, incluindo ainda três agentes da PSP, acusados de pertencerem a uma alegada rede criminosa de assaltos a residências na região de Lisboa e na margem sul do rio Tejo começaram a ser novamente julgados, desta vez no Tribunal de Cascais, após anulação do primeiro julgamento na sequência de um acórdão do Supremo Tribunal de Justiça. Na manhã de hoje apenas dois dos arguidos prestaram declarações, enquanto outros, entre eles Pereira Cristóvão e Mustafá, assumiram querer falar em julgamento, mas "não para já".

Telma Freitas, agente da PSP, assumiu em tribunal ter participado, em Julho de 2014, num assalto a uma residência em Mem Martins, no concelho de Sintra, em conjunto com mais três arguidos, dois deles também polícias: Elói Fachada e Luís Conceição. Os três agentes da PSP encontram-se suspensos de funções a aguardar o desfecho deste processo judicial.

A arguida contou que Elói Fachada, com quem assumiu manter, à data, um relacionamento, lhe falou do assalto, acrescentando que foi Luís Conceição quem informou o seu companheiro de então de que naquela casa haveria um cofre com 80 mil euros, informação obtida através da proprietária da habitação, com quem aquele arguido mantinha uma relação próxima.

Na manhã de 1 de Julho de 2014, enquanto Luís Conceição ficou de vigilância no exterior, para não ser reconhecido, a arguida (fardada e com a arma de serviço), Elói Fachada e o arguido Serge Torres, vestindo um colete da PSP e munidos de um mandado de busca forjado, dirigiram-se à residência, identificaram-se como polícias e concretizaram o assalto. As ofendidas ficaram com a arguida na cozinha, enquanto os outros dois elementos acederam ao cofre, aberto pela dona da casa. No seu interior estavam 5.600 euros, montante que foi dividido pelos quatro arguidos, assim como várias peças em ouro.

A arguida mostrou-se arrependida e justificou ter "dito que sim em vez de ter dito que não" à participação no assalto por estar a atravessar um momento "depressivo e vulnerável", devido ao fim do casamento, mencionando ainda o facto de "sentir medo de ficar sozinha, com dois filhos". A seguir prestou declarações Serge Torres, acusado de estar envolvido em sete assaltos. O arguido confirmou ter participado no assalto à casa de Mem Martins e num outro a uma residência num condomínio fechado em Cascais, através do mesmo esquema: uso de fardas da PSP e recurso a mandado de busca forjado.

Este arguido apresentou, porém, uma versão dos factos diferente daquela que assumiu em fase de inquérito, nomeadamente quanto à participação e à identificação de Mustafá e do irmão gémeo deste, Paulo Santos, no assalto à residência do Cascais Atrium. Na fase de inquérito afirmou ter visto estes dois arguidos numa carrinha que se deslocou ao local do assalto, enquanto agora, em julgamento, admitiu apenas ter visto a carrinha, negando ter reconhecido Mustafá e o irmão.

Visivelmente incomodado e depois de confrontado pela presidente do colectivo de juízes, o arguido disse: "Gostava apenas de falar sobre mim, não de terceiros". O julgamento prossegue a 20 de Fevereiro, com a continuação da audição de Serge Torres.

Os 17 arguidos respondem por associação criminosa, roubo, sequestro, posse de arma proibida, abuso de poder, violação de domicílio por funcionário e ainda falsificação de documento.

Segundo o despacho de acusação do Ministério Público, Paulo Pereira Cristóvão, que chegou a ser vice-presidente do Sporting, dois outros arguidos e os três polícias recolhiam informações e decidiam quais as pessoas e locais a assaltar pelo grupo. Depois, as informações eram transmitidas aos restantes elementos, que compunham a vertente operacional da alegada rede criminosa.

Durante os assaltos, descreve o Ministério Público, "os arguidos simulavam ser agentes policiais que realizavam buscas domiciliárias, apresentando documentos identificados como mandados de buscas, que tinham sido previamente elaborados/falsificados por um dos agentes da PSP".

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