Santana faz oposição à frente esquerda, sacode o PSD e é exigente com Marcelo

Líder da Aliança pede ao Presidente da República que promova, em conjunto com os parceiros sociais, um pacto para o crescimento económico

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Miguel Manso

No final do primeiro congresso da Aliança, o seu líder eleito, Pedro Santana Lopes, prometeu ir a jogo nas “causas justas”. A estratégia do novo partido ficou evidente em dois eixos: oposição à “frente de esquerda” – e com isso uma demarcação do PSD – e exigência com o Presidente da República.

O antigo primeiro-ministro do PSD renasceu na Aliança com a linha de pensamento com que foi a votos no seu antigo partido há perto de um ano: o ‘não’ ao bloco central. A “frente de Esquerda”, como lhe chamou durante todo o congresso da Aliança, no Arena de Évora, foi, por isso, o alvo principal das críticas. No discurso de encerramento, Santana Lopes aproveitou para condenar o anúncio de que o pior da crise económica já estava ultrapassado. Agora, prosseguiu, “dizem que está tudo constipado, que pode vir gripe e mesmo pneumonia”.

Quanto aos resultados da acção do executivo, o antigo primeiro-ministro não tem dúvidas sobre o balanço desta legislatura: “É um caso de má governação”. Mesmo o maior trunfo que o PS exibe na política económico-financeira não convence o antigo líder do PSD: “O défice regride, mas a dívida não”.

A “frente de esquerda” tem “preconceito” contra a agricultura e é “injusta” nas greves que “não são dirigidas pelos seus” e nas comissões de inquérito que “não são de sua iniciativa”. Essa mesma extrema-esquerda que Santana Lopes considerou ter “preconceitos ideológicos já ultrapassados” – lembrando até que “o muro de Berlim caiu há quase 30 anos” - quando falou na visão sobre a saúde em Portugal. Neste ponto não foi apenas da esquerda que o líder da Aliança se demarcou ao propor “seguros de saúde para todos” como forma de financiamento do Serviço Nacional de Saúde. O afastamento face ao PSD e ao CDS foi ainda sublinhado na defesa do Estado solidário em vez do Estado Social. “É muito difícil haver seja o que for grátis, tudo tem um custo, mesmo o que nos dizem que é tendencialmente gratuito”, disse, recuperando novamente a ideia de “preconceito” da esquerda, quando “mal chegou ao poder” fez reverter privatizações para proteger os sindicatos.

Como contraste das opções da esquerda, Santana Lopes assumiu ser contra “continuar a subsidiar empresas públicas”, a “dar tudo a todos independentemente de serem pobres ou ricos”. Até porque, vincou, “quanto mais o Estado gasta mais impostos temos de pagar, directos ou indirectos”. Na segurança social, o antigo primeiro-ministro defendeu a proposta da criação de um sistema de capitalização em vez do actual sistema redistributivo, mas com a possibilidade de escolha entre o público e o privado.

No rol das “injustiças” da “frente de esquerda”, o líder da Aliança colocou ainda os “julgamentos morais”, mas não nomeou exemplos. Mais concreto foi com o “cerco” que o Governo “tem feito” à Região Autónoma da Madeira para “favorecer o PS” nas eleições regionais. E dirigiu-se ao Presidente da República: “Esta matéria exige a sua especial atenção”. Marcelo Rebelo de Sousa recebeu outras sugestões. Depois de já ter convidado, “e bem”, para o Conselho de Estado representantes de instituições europeias, como Jean Claude-Juncker, Santana aconselhou que o poderia fazer também em relação aos agentes da justiça, depois de se ter empenhado na assinatura de um pacto por todo o sector. 

Marcelo Rebelo de Sousa - sugeriu ainda Santana Lopes - poderia ainda alargar as reuniões daquele órgão consultivo aos parceiros sociais para conseguir “um pacto para o crescimento económico”, que foi eleito o grande desígnio do novo partido.

Santana Lopes poupou mais o Presidente no discurso de encerramento do que na primeira intervenção no congresso, no sábado à noite, onde admitiu que tem de haver solidariedade institucional com o Governo, mas que “não é preciso exagerar”.

No segundo discurso do congresso também o PSD por si só foi esquecido. O ataque à estratégia de Rui Rio já tinha sido lançado na véspera quando Santana Lopes fala do “lado de cá” e se dirigiu ao primeiro-ministro em jeito de interrogação: “Depois de quatro anos, de intensas negociações, o senhor se calhar já não tem paciência, haverá alguém que lhe diga esteja à vontade, se quiser outro parceiro estamos cá. Será isto admissível em nome do interesse nacional?”. O fundador da Aliança propôs-se até ter um papel mediador e agregador no centro-direita para derrubar “a frente de esquerda”.

Como o partido se candidata às três eleições deste ano, Santana Lopes parece apostado em conquistar eleitorado à abstenção – esse foi também já o objectivo traçado por Rui Rio - e nesse sentido apelou: “Dêem-nos uma oportunidade”. E prometeu: “Preparem-se, onde houver combates, causas justas, opressão, injustiças, nós vamos lá estar, nas fábricas, nos hospitais, nas escolas.”

No final do discurso, de cerca de 40 minutos, a sala levantou-se, de bandeiras na mão, enquanto os dirigentes subiram ao palco para se juntarem a Santana Lopes ao som de um dos três candidatos a hino do partido, neste caso, o que parece colher mais aceitação, da autoria de António Pinto Basto. O próprio Santana o cantou, de bandeira na mão, que depois largou, para, hirto, entoar o hino nacional.

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