Maduro pede apoio à OPEP e recebe silêncio

Organização de países exportadores de petróleo diz que não reage a acontecimentos de política internacional e recusou-se a emitir um comunicado oficial em resposta ao Presidente venezuelano.

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"Tirem as mãos da Venezuela", diz o folheto que seguram Maduro e a sua mulher Carlos Barria/REUTERS

O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pediu à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) que condene as sanções impostas pelos EUA contra a indústria do petróleo venezuelana. Mas, segundo a agência Reuters, a resposta da organização foi fria: a OPEP disse que está mais preocupada com as políticas relacionadas com o petróleo do que com a política internacional, e recusou-se a fazer um comunicado oficial.

A carta de Maduro foi enviada à OPEP a 29 de Janeiro, um dia depois de a Casa Branca ter anunciado que ia fechar o mercado norte-americano à indústria de petróleo da Venezuela. Mas o seu conteúdo só foi revelado esta segunda-feira, pela agência Reuters.

"O nosso país espera receber a solidariedade e o total apoio dos países-membros da OPEP e da sua conferência ministerial na luta que estamos a travar contra a intrusão ilegal e arbitrária dos EUA nos assuntos internos da Venezuela", disse Nicolás Maduro.

Na mesma carta, o Presidente venezuelano disse que as sanções norte-americanas podem ter consequências negativas em todo o mercado global, com a queda de petróleo disponível no mercado e consequente subida dos preços.

A resposta da OPEP – ou a ausência dela, pelo menos publicamente – está em linha com a posição que a organização costuma ter perante conflitos de política internacional. No ano passado, depois de os Estados Unidos terem rasgado o acordo sobre o programa nuclear iraniano, a OPEP recusou um pedido do Irão para discutir a aplicação de sanções ao país pelo Presidente norte-americano, Donald Trump.

No final do mês passado, e quase de um dia para o outro, a já depauperada economia venezuelana ficou sem acesso ao seu maior mercado de exportação e à compra de produtos norte-americanos para misturar com o seu crude – uma operação essencial para que o petróleo venezuelano possa circular pelos oleodutos até aos portos.

Para além disso, as empresas norte-americanas foram proibidas de fazer negócios com a empresa estatal de petróleo da Venezuela e as contas do país em bancos norte-americanos foram congeladas.

As sanções norte-americanas seguem-se ao reconhecimento de Juan Guaidó como Presidente interino, em Janeiro, uma decisão que foi seguida entretanto por mais de 40 governos em todo o mundo, entre os quais o português.

Ajuda russa

Depois do anúncio das sanções norte-americanas, Maduro viu surgir-lhe uma linha de salvação a partir da Rússia. A gigante do petróleo Rosneft fez saber que espera um aumento da produção na Venezuela em 2019 em relação ao ano passado, considerando que a crise política no país é "temporária".

Ainda assim, o apoio da Rússia e eventuais novos compradores do petróleo venezuelano podem não ser suficientes para colmatar o rombo provocado pelas sanções norte-americanas – não só os EUA são o maior mercado do petróleo venezuelano, como os possíveis novos compradores vão querer negociar fortes descontos nos barris rejeitados por causa das sanções norte-americanas.

Um cenário que faz temer um agravamento ainda maior da grave situação humanitária no país.

"Não sei se os EUA têm um Plano B se isto não for suficiente para derrubar Maduro", disse ao New York Times Francisco Rodríguez, um economista venezuelano na empresa norte-americana Torino Capital. "Receio que se estas sanções forem implementadas na sua actual forma, podemos ser confrontados com um cenário de fome."

Nos últimos dias, o Governo venezuelano rejeitou a entrada no país de camiões com alimentos e medicamentos, enviados pelos EUA. Os camiões estão parados na fronteira com a Colômbia porque o Governo venezuelano considera que a iniciativa é "uma mensagem de humilhação para o povo" a pedido dos seus opositores.

"Eles querem fazer uma caricatura de um país em crise humanitária, com um ditador e com os EUA a abrirem as mãos para ajudarem pessoas em sofrimento”, criticou Nicolás Maduro.

O país enfrenta uma escassez de alimentos e medicamentos como resultado do colapso da sua economia, que alguns analistas estimam em 50% desde a chegada de Nicolás Maduro ao poder, em 2013. Uma avaliação que não inclui as consequências das sanções norte-americanas.

"É evidente que isto não é uma missão humanitária", disse ao New York Times Adam Isacson, responsável pelo acompanhamento da cooperação entre os EUA e as forças de segurança dos países da América Latina, na organização não-governamental norte-americana Washington Office on Latin America. "Eles querem forçar os militares venezuelanos a tomarem uma decisão [sobre se deixam, ou não, entrar os camiões]: vão ser amaldiçoados se deixarem e amaldiçoados se não deixarem."

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