Veículos elétricos

Será que o objetivo central das políticas públicas passa por alavancar a substituição maciça do parque convencional por novos automóveis elétricos?

Face à intensa intervenção pública de milhares de “cientistas” assegurando que tudo, e o seu contrário, em matéria do clima, se deve ao CO2 antropogénico, impõe-se clarificar que este artigo não tem como objetivo debater a verosimilhança científica de tal correlação. Até pela insuficiência do articulista nessa matéria.

Mesmo dando como aceite que as alterações climáticas sejam um problema para o planeta e para a humanidade, e que tal se deve ao CO2 produzido pelas atividades socioeconómicas, por que razão há quem tenha que suportar os enormes custos das medidas de erradicação/mitigação (a grande maioria dos consumidores/contribuintes), enquanto outros (investidores/empresários/especuladores) extraem fabulosos lucros com as políticas públicas e privadas voluntaristas que norteiam a descarbonização feita em marcha acelerada?

Vejamos a questão da mobilidade/transporte de pessoas e mercadorias. Com o objetivo de “descarbonizar a economia e a sociedade”, iniciaram-se na UE grandes campanhas para intensificar a substituição de viaturas tradicionais por veículos com propulsão elétrica. É a campanha do “tudo elétrico”.

Através de uma agressiva publicidade comercial e institucional têm-se conseguido crescimentos nas vendas dos híbridos – que só fazem curtíssimos percursos com emissões zero – e, também, nos últimos dois anos, de viaturas exclusivamente elétricas. Trata-se de veículos significativamente mais caros do que os seus equivalentes convencionais, apesar da subsidiação estatal suportada com esforço fiscal e parafiscal de consumidores/contribuintes.

Será que o objetivo central das políticas públicas passa por alavancar a substituição maciça do parque convencional por novos automóveis (TI) elétricos? Pelo que se lê, vê e ouve, parece que sim. Ou seja, os nossos esclarecidos dirigentes governamentais gostariam de substituir, não o paradigma de mobilidade, mas apenas o tipo das viaturas: nas metrópoles, cidades e vilas, não haveria gases, é certo, mas... as filas e engarrafamentos perdurariam!

A produção de um carro elétrico implica mais 50% de CO2 em comparação com a de um carro térmico equivalente. O seu fabrico (motor e baterias) exige metais caros e alguns com grandes impactes ambientais no processo extrativo. Estima-se que o ponto de equilíbrio, em termos das emissões de CO2, entre uma viatura elétrica e outra convencional, só se atinja ao fim de 40.000 km percorridos. Isto é, cerca de três anos para um utilizador médio.

O cobalto, grafite, magnésio, lítio ou neodímio necessários determinariam, se houvesse uma massificação de veículos elétricos, uma corrida às matérias primas com consequências imprevisíveis. Cada carro elétrico necessita de 4 kg de neodímio e, para obter 24 gramas, é preciso tratar 600 kg de minério. O Banco Mundial alertou para a possibilidade de vir a haver saturação na exploração/extração de metais e elementos raros.

O fabrico dos veículos elétricos implicará utilizar cerca de 250 kg de alumínio/unidade. A sua produção exige muita eletricidade que não pode depender da (intermitência) flutuabilidade e imprevisibilidade das renováveis. 

A questão da autonomia está por resolver não obstante as audaciosas promessas quanto às quilometragens conseguidas entre recargas. As viaturas elétricas individuais (TI) são funcionais nos circuitos estritamente urbanos, com frequentes paragens e arranques. Para deslocações longas e médias (áreas metropolitanas) já assim não é.

 A rede infraestrutural para recargas (rápidas e/ou lentas), os tempos necessários e o preço da eletricidade + serviços complementares, são questões cruciais que estão por esclarecer. Num teste realizado em Espanha com uma moderna viatura elétrica, verificou-se a necessidade de 12h40 minutos para fazer Madrid-Sevilha (520 km), com três paragens para carregamento, duas lentas e uma rápida!

Agora que se têm verificado baixíssimas temperaturas, imagine-se o que aconteceria aos ocupantes de uma viatura elétrica forçada a parar durante várias horas numa estrada isolada? O esforço de eletrificação motriz deveria, de facto, privilegiar os meios e modos pesados de transporte de passageiros (comboios, metros, elétricos, etc.).

Em conclusão: é aconselhável uma grande prudência e bom senso, nomeadamente quando se trata de avançar com políticas públicas que envolvem dinheiro coletivo. Atitudes que não abundam, como se poderá constatar nas recentes declarações incendiárias do ministro acerca das viaturas diesel. Que, aliás, até produzem menores quantidades de CO2 por quilómetro percorrido quando comparadas com as movidas a gasolina!

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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