Centeno defende "acção política" para atacar os riscos que pressionam o crescimento da zona euro

Receita do presidente do Eurogrupo é a reforma da zona euro e políticas nacionais "cuidadosas e sem complacências". Governo diz que estimativas para 2019 já têm em conta riscos.

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Reuters/FRANCOIS LENOIR

O presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, apelou esta segunda-feira à acção política colectiva dos governantes europeus, para “introduzir clareza” e contrariar o ambiente de “incerteza” relativamente à magnitude das pressões externas que estarão a contribuir para o abrandamento económico da zona euro. “Os riscos que se têm acumulado e estão a empurrar o crescimento para baixo são sobretudo políticos”, sublinhou Centeno, que mais uma vez apontou a reforma da zona euro como a solução — “necessária” e urgente — para a protecção da economia europeia num cenário de instabilidade global.

O “Brexit” é uma das incertezas que actualmente afectam os mercados. As tensões entre os Estados Unidos e a China, “que muitos já chamam de guerra comercial”, serão outros, notou. Mas tanto num caso como noutro, Centeno acredita que podem ser mitigados e até mesmo eliminados com a acção política, por exemplo no seio do Eurogrupo. “Somos políticos, e por isso temos de começar a reduzir a reduzir estes riscos”, lembrou.

A receita de Centeno passa pela reforma da zona euro — segundo garantiu, houve alguns progressos na discussão dos ministros sobre a criação de um instrumento orçamental para a competitividade e a convergência — e também por políticas nacionais desenhadas “com cuidado” e “sem complacências”. 

Nesse capítulo, o presidente do Eurogrupo evitou pronunciar-se sobre as políticas que desenhou como ministro das Finanças português e que foram elogiadas pelos seus pares no contexto da avaliação do relatório de vigilância pós-programa de assistência financeira. Em traços gerais, todos saudaram o “crescimento sólido” da economia e do emprego e o esforço de consolidação orçamental do Governo. Mas também alertaram para os riscos externos e internos que a economia nacional pode enfrentar. 

O comissário europeu para os Assuntos Económicos e Financeiros, Pierre Moscovici, lembrou o risco que representa o alto nível de crédito malparado em Portugal permanece muito elevado. Pelo seu lado, o director do Mecanismo Europeu de Estabilidade, Klaus Riegling, considerou “importante” que em Portugal “o crescimento dos salários seja sustentado por ganhos de produtividade, para manter a competitividade”. Ainda assim, disse que não estava preocupado com a capacidade do país efectuar o pagamento de cerca de 500 milhões de euros ao Fundo Europeu de Estabilização Financeiro até ao fim do ano.

A defesa da política portuguesa coube ao secretário de Estado Adjunto e das Finanças, Ricardo Mourinho Félix, que destacou a “redução muito significativa” do nível do crédito malparado, que “chegou a ser de 50 mil milhões de euros e hoje está num valor que ronda os 30 mil milhões de euros”. “Reconhecemos que o nível é ainda elevado mas está muito mais reduzido”, acrescentou, sublinhando que a trajectória de descida “permite continuar a convergência para a média da área do euro”, afirmou.

Quanto às estimativas sobre a evolução da economia, o secretário de Estado desvalorizou a diferença entre as previsões da Comissão Europeia (de uma baixa do crescimento para 1,7%) e do Governo (que apontou para um valor de 2,2% em 2019). “A revisão que é feita pela Comissão é muito ligeira, de apenas uma décima, e muito mais pequena do que é feita para a área do euro como um todo”, sublinhou, chamando a atenção para “uma alteração muito significativa: Portugal antes estava a crescer muito em linha com a área do euro e agora cresce acima da área do euro”, vincou.

Mourinho Félix disse ainda que nas suas projecções o Governo já antecipara o previsível abrandamento económico “que tem sobretudo a ver com tensões políticas”, repetiu. E por isso não vê razão para, “neste momento”, proceder à revisão das previsões. “Há razão para acompanhar a evolução dos indicadores, e na altura da [elaboração] do Programa de Estabilidade incorporar o conjunto da informação disponível e fazer as alterações que tenham que ser feitas”, prometeu.

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