Anderson de graça

Perry Anderson é um pensador original e destemido, dotado de uma grande clarividência.

O London Review of Books tem uma política simpática. Quando publica um ensaio notável dá uma semana aos assinantes para lê-lo e depois retira a paywall para toda a gente poder aproveitar.

Esta semana ofereceu o mais recente ensaio de Perry Anderson sobre o Brasil, Bolsonaro’s Brazil. É ideal para quem queira compreender a situação política e social no Brasil. Anderson é um pensador original e destemido, dotado de uma grande clarividência.

É deliciosamente subjectivo nos elogios e nas repugnâncias, apreciando o sentido de humor de um monstro ou a banalidade de um herói. Diz, por exemplo, que é um mau hábito passar o tempo a dizer que este livro ou aquele é como o Dezoito de Brumário de Marx. Mas sustenta que O Lulismo Em Crise de André Singer está, de facto, ao nível do Dezoito de Brumário.

Não descansarei enquanto não ler tudo o que André Singer escreveu. Sai-se sempre dos artigos de Anderson com vontade de ler coisas. Ele não podia ser mais inglês mas a facilidade com que lê português, francês, italiano e castelhano tornam-no num sábio curioso e entusiástico que está bem em qualquer realidade. O irmão Benedict Anderson também tinha a mesma generosa inteligência.

Numa fascinante conversa com Pablo Iglesias, Anderson (lá para o minuto 50) elogia o à-vontade cultural de Mário Soares (apesar de detestá-lo politicamente) e a maior qualidade de Álvaro Cunhal e António Costa comparados com os equivalentes espanhóis. Só faltou dizer que Salazar também era mais culto e inteligente do que Franco.

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