Diário

Vasco Pulido Valente acha que ninguém que tenha estado internado num hospital é contra a greve dos enfermeiros e que "selvagem" é a forma como António Costa fala da classe.

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LUSA/Cristian Hernandez

2 de Fevereiro

Venezuela. O PC e o Bloco tomaram uma posição política e moralmente abjecta. A extrema-esquerda continua a fazer a política externa da Rússia, por puro ódio à América, agora reforçado pelo ódio a Trump. A extraordinária Raquel Varela jurou, na televisão, argumentando a favor de Maduro, que estaria disposta a defender Salazar contra uma intervenção estrangeira. Pena não a poder mandar para 1941.

Ainda por cima esta gente não percebe que a Rússia é hoje uma potência de segunda ordem; o “Gabão com mísseis” de Helmut Schmidt. Há 5 Estados dos Estados Unidos com um PIB maior que o da Federação Russa; e sobram 45.

Os americanos salvaram a Europa dos nazis e dos comunistas, mas não tencionam salvá-la de Putin. Esse cavalheiro, de resto, não quer reconstituir o império soviético, só quer voltar às fronteiras de 1991. E não vai ser dissuadido pelo ridículo exército europeu de Macron e Merkel. Até já se vê sobreposto à tricolor da Federação um emblema que se parece suspeitamente com a águia dos Romanov.

É para isto que o PC e o Bloco aplicadamente trabalham. Maduro abriu as portas da Venezuela aos russos e aos chineses. Os russos venderam-lhe armamento (15 mil milhões de euros) e os chineses emprestaram-lhe dinheiro (3 mil e quinhentos milhões de euros). Consola saber que os nossos revolucionários defendem estes negócios contra a ambição imperialista da Europa e da América de ajudar as 370 mil pessoas que estão em risco de morrer.

3 de Fevereiro

Venezuela. Toda a gente diz que o exército decidirá tudo. Mas toda a gente sabe que esse exército é um exército patrioticamente sul-americano, sem a mais vaga tradição de combate e com 2 mil e tantos generais (os Estados Unidos, a primeira potência militar do mundo, têm 900) que se dedicam a roubar o Estado e ao tráfego de droga e divisas. Quando Guaidó apela à “honra” dessa camarilha burocrática e suja não fico muito convencido.

4 de Fevereiro

O meu amigo Luís Marques Mendes é o melhor valsista de Portugal. Anda sempre a três tempos. Tem sempre três argumentos, três razões, três cenários, três obstáculos, três erros, três factos, três culpados e três informações muito confidenciais. É a pessoa mais ternária do mundo.

5 de Fevereiro

Durante a última doença, estive internado na enfermaria geral, nos cuidados intermédios e nos cuidados intensivos. A medicina é uma indústria, mas só quando se é processado como um produto industrial se percebe o que isso quer dizer. Entre outras coisas quer dizer que quem nos trata, quem está ao pé de nós, quem nos conhece, não são os médicos, são os enfermeiros. Não acredito que um doente que tenha alguma vez passado pelos hospitais públicos ou privados esteja contra a greve que o primeiro-ministro acha “selvagem”. “Selvagem” é a maneira como ele fala dos enfermeiros.

6 de Fevereiro

Quando cheguei à Assembleia da República, eleito por Eduardo Azevedo Soares e pelo dr. Fernando Nogueira, descobri que se marcavam faltas aos representantes da Nação. As coisas passavam-se assim: a Nação chegava por volta das três da tarde, assinava o ponto, tomava o seu cafezinho, e ia à sua vida. As bancadas ficavam vazias excepto pela direcção do grupo parlamentar e meia dúzia de tristes que liam o jornal.

Isto punha-me perante um dilema. Por um lado, era uma partícula da Nação, ofendido pelo regime escolar a que tinha sido submetido. Por outro, não passava de um vassalo do meu chefe, Fernando Nogueira, ou seja, de uma cara desavergonhada. A partícula da Nação queria protestar contra a marcação de faltas, o vassalo estava consciente da sua indignidade. Demiti-me ao fim de quatro meses.

Esta semana os jornais anunciaram que, por iniciativa do benemérito Jorge Lacão, o Parlamento talvez resolva multar os seus próprios membros por pequenos delitos ou por desvios sensacionais à ética prevalecente.

Não se pode descer mais baixo.

7 de Fevereiro

A fantasia do governo e dos partidos políticos, neste mês de propaganda eleitoral, foi ilimitada. O primeiro-ministro declarou que “não poderia dormir descansado” enquanto houvesse violência doméstica. E, logo a seguir, como se isto não fosse bastante, tirou do bolso uma proposta de lei para apoiar a actividade de 800 mil cuidadores informais.

8 de Fevereiro

Circulatura do Quadrado (um nome imbecil). O Presidente da República, para compensar o telefonema a Cristina Ferreira e o discurso na inauguração da sede da SIC, ajuda a TVI a lançar o velho programa de Pacheco Pereira, Lobo Xavier e Jorge Coelho. São equilíbrios necessários; eles lá sabem as linhas com que se cosem. De qualquer maneira, é bom saber que o chefe do Estado anda agora envolvido nas guerras de canais.

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