O americano feio

Quando um estrangeiro é malcriado, é melhor falar português. Falando em inglês é ele que se sente superior. Falando em português é sobre ele que cai o ónus da competência linguística.

Vejo-o aproximar-se com o que parece ser um boné Make America Great Again. É muito mais alto e muito mais gordo do que John Wayne. Porque é que alguém anda em Portugal com um boné de Donald Trump? Será por ser tão grande que ninguém se atreveria a protestar?

Vem acompanhado por uma senhora. Ele senta-se na mesa com melhor vista do restaurante. Ela vai à casa de banho. Ele senta-se e diz "Two cappuccinos". O empregado explica que é um restaurante, que não servem bebidas. Há cartazes por toda a parte a dizer isto, para não haver estes mal-entendidos.

O homem zanga-se: "I don't understand!" Não sabe falar uma palavra de português mas está descontente com o inglês do empregado.

O empregado volta a explicar com grande educação, como se o homem não fosse malcriado. A mulher volta da casa de banho e ele levanta-se e grita: "Unbelievable! Unbelievable! I'm never coming here again - and neither will any of my friends!"

Foi uma ameaça que caiu bem com o pessoal do estabelecimento: nunca ninguém o tinha visto mais gordo. Regressou a calma àquela esplanada com todos os clientes a repetir "Unbelievable!" e a trocar gargalhadas.

Ocorreu-me que, quando um estrangeiro é malcriado, é melhor falar português. Falando em inglês é ele que se sente superior, a fingir que não "understanda". Falando em português (de preferência depressa) é sobre ele que cai o ónus da competência linguística. Se não sabe português, tough!

"Ó Manel, chega aqui, está aqui um cámone a pedir dois capuchinhos."

"Manda-o dar uma volta".

"Tá bem".

Sugerir correcção
Ler 5 comentários