Daqui para a frente, "descida do desemprego vai ser muito contida”

João Cerejeira, economista e especialista em mercado de trabalho, defende que a taxa de desemprego poderá, quanto muito, baixar para os 6,5% e alerta que crescimento do emprego depende da entrada de mão-de-obra no país.

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João Cerejeira é economista e professor na Universidade do Minho ADRIANO MIRANDA

O  economista e professor na Universidade do Minho​ vê alguns sinais de alerta nos dados agora divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e receia os efeitos negativos associados à diminuição da população activa e empregada entre os 25 e os 44 anos.

A taxa de desemprego em Portugal estabilizou em 6,7% nos últimos três trimestres de 2018. Vai ficar por aqui ou ainda é possível que desça mais?
Os dados apontam para uma estabilização da taxa de desemprego em torno dos 6,7% e provavelmente vai ser possível chegar aos 6,5%, mas a descida vai ser muito contida.

Há um tipo de emprego que em Portugal não tem grande expressão, provavelmente porque ainda somos um país com baixos salários, que é o emprego a tempo parcial. Uma maior generalização desse tipo de emprego, seria uma forma de descer esta taxa de desemprego para valores mais baixos.

Depois há um conjunto de elementos de rigidez na economia que afecta negativamente a taxa de desemprego. Por exemplo, vários estudos mostram que os trabalhadores portugueses são os que gastam mais tempo e mais dinheiro nas deslocações de casa para o trabalho e vice-versa. Ou seja, o custo de trabalhar é relativamente elevado, com os custos associados ao transporte, à alimentação e à renda da casa a limitarem a mobilidade e a condicionarem a taxa de desemprego.

Outro dado que sobressai dos dados divulgados pelo INE é o abrandamento do crescimento do emprego. Neste momento, temos pouco mais de quatro mil e 880 milhões de pessoas empregadas e ainda não se conseguiu voltar aos níveis de emprego de 2009. O que é que está a acontecer?
Se reparar, a taxa de emprego está em valores máximos desde 2011 e há uma diminuição do trabalho a tempo parcial e da taxa de sub-utilização de emprego, o que mostra a reduzida folga da elasticidade do mercado de trabalho. Por outro lado, temos praticamente todas as pessoas disponíveis para trabalhar empregadas. Não há muito mais por onde crescer a não ser expandindo a população activa.

Estamos dependentes da entrada de mão-de-obra estrangeira no país?
Sim. Até porque algum emprego que foi criado nos últimos anos dirigiu-se à população mais velha que viu aumentar a idade da reforma. Isso é visível no número de pessoas empregadas com 65 e mais anos [que registou um aumento de 13,7%].

Os portugueses a trabalhar por conta de outrem viram, em média, o seu rendimento líquido subir 3,7% no ano passado, o valor mais elevado desde 2012. A que se deve esta subida?
O salário médio é afectado pela subida do salário mínimo [que em 2019 é de 600 euros], mas é também resultado da estabilização do desemprego que depois se traduz em escassez de mão-de-obra e acaba por influenciar positivamente os salários na contratação. Há um lado institucional, com a publicação de portarias de extensão [que estendem os aumentos negociados na contratação colectiva a todo um sector], e há um lado relacionado com o comportamento do mercado de trabalho

Que sinais de alerta vê nos dados agora divulgados?
A diminuição da população activa e empregada entre os 25 e os 44 anos, que pode significar um saldo migratório negativo nestas faixas etárias. É preocupante porque estamos a falar de uma população que ainda tem 20 a 30 anos de vida activa e esta diminuição pode ter efeitos de muito longo prazo.

E sinais positivos?
O sinal positivo é que, apesar de tudo, houve um crescimento expressivo quer do emprego quer da população activa com formação superior.

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