A investigação tem de ser indisciplinada

Sabe-se hoje que as emoções são centrais para a tomada de decisões, incluindo morais. Há todo um potencial incrível de investigação que somente uma análise multidisciplinar que englobe vários ângulos e metodologias inovadoras pode proporcionar.

Todos sabemos que se nos desviarmos do caminho há uma forte possibilidade de um lobo peludo comer a nossa avó. O mundo da investigação vive muito deste medo e por isso nem sempre é receptivo a novos caminhos. Para evoluir, é essencial arriscar em estradas pouco trilhadas mostrando que avós e lobos podem conviver em harmonia.

A relação entre emoção e moralidade foi sempre bastante controversa e tem ocupado os estudiosos desde o tempo de Platão e Aristóteles. Disciplinas específicas tendem a fornecer as suas próprias interpretações, e muitos investigadores ainda desconfiam de “contaminações” de outras áreas, optando por estudos herméticos que impedem reflexões profundas sobre esta ligação. Tentar reduzir os conceitos de moralidade e emoção a uma única definição é insensato, perigoso e, em última análise, impossível, dada a sua fluidez no tempo e no espaço. Um verdadeiro entendimento desta reciprocidade só pode ser alcançado por um intercâmbio de vários paradigmas.

Ao contrário de muitos centros europeus e americanos onde esta pesquisa se encontra mais desenvolvida, há no nosso país um grande caminho a percorrer no que respeita ao alinhamento de diferentes áreas científicas. Há igualmente uma lacuna na abertura e comunicação da investigação científica à sociedade. A ciência não pode ficar guardada em discos rígidos ou em nuvens, mas deve ser usada para aumentar a resiliência e sobrevivência dos indivíduos e da sociedade perante os vários desafios do nosso tempo: sociais, ambientais, tecnológicos, políticos ou de outra ordem.

O EMOLABS é o resultado natural de um amadurecimento científico e surge de uma grande vontade de sair da zona de conforto e transcender limites disciplinares rígidos, articulando várias áreas, como a psicologia comportamental e experimental, a inteligência artificial, a literatura, a história, a antropologia, as neurociências, a engenharia ou a filosofia. A sua missão é explorar o impacto que as emoções e a moral têm na nossa identidade, comportamento e capacidade de tomar decisões, a nível individual e em grupo. Além da vertente de investigação, pretende ajudar a resolver problemas reais, sejam estes de cooperação, resolução de conflitos, ansiedade, entre outros. Enquanto seres sociais com tendências heliocêntricas, a exposição a sociedades, culturas e contextos específicos tem um profundo impacto nas nossas acções e reacções. Como argumenta o psicólogo evolucionário Robert Kurzban, muitas vezes as pessoas não conseguem ver as suas próprias inconsistências, acreditando que todos os outros são hipócritas menos elas, sendo a moralidade usada, com frequência, estrategicamente.

Se queremos ir para além das respostas que desaparecem no estudo seguinte, então a investigação tem de ser, obrigatoriamente, mais transversal, mais indisciplinada. Ouvir e envolver outras áreas, outros especialistas, vencendo os nossos próprios preconceitos e medos, deve tornar-se a regra e não a excepção. Assim como tomar chá com lobos.

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