Onde para a polícia?

Combater o crime não é racismo. A cor não pode servir de máscara a comportamentos marginais. Não podemos embarcar numa deriva irresponsável que coloca o pais a ferro e fogo.

Há fenómenos que não podem passar despercebidos, que nos tocam mais forte as cordas da indignação. E os últimos acontecimentos que colocaram a polícia, e até os bombeiros, como alvo da ira indecente de uns poucos é de uma indignação clamorosa.

Vamos ao que interessa: “A Polícia de Segurança Pública é uma força de segurança, uniformizada e armada, com natureza de serviço público e dotada de autonomia administrativa. Tem por missão assegurar a legalidade democrática, garantir a segurança interna e os direitos dos cidadãos, nos termos da Constituição e da lei.”

É esta a definição primária da PSP. Repito: “assegurar a legalidade democrática, garantir a segurança interna, nos termos da Constituição e da lei”, isso mesmo. Não é de acordo com as conveniências de cada um, nem debaixo de supostas interpretações travestidas de defesa dos direitos humanos ou de minorias. Combater o crime não é racismo. A cor não pode servir de máscara a comportamentos marginais. A autoridade não se combate, o autoritarismo sim. Não podemos embarcar numa deriva irresponsável que coloca o pais a ferro e fogo.

A visão míope de uns não pode condicionar a perceção de todos. A PSP já não pode desempenhar as funções para a qual está mandatada pelo Estado sem que seja de pronto acusada de racismo e de xenofobia. Sério?

Basta que o interpelado seja negro, e qualquer reação mais violenta, coerção ou uso da força (tantas vezes em recurso e defesa da autoridade confrontada e posta em causa) é de imediato afirmada como racismo. A atitude de uns não pode contaminar a verticalidade de todos. A opinião pública não pode e não deve ser manipulada contra as suas forças de segurança, e até mesmo as forças de paz como os bombeiros. Lisboa tem estado sob ataques soezes a equipamentos públicos e propriedade privada por gente que não pode ser de bem.

A confusão que reina, ou que a alguns interessa que reine, porque se confunde exercício da autoridade com racismo, numa bipolarização entre um conjunto de cidadãos para quem a ‘bófia é uma bosta’ e a própria polícia, como se fossem dois lados possíveis de uma contenda, à boa maneira das batalhas que temos assistido semanalmente no jogo do gato e do rato dos "coletes amarelos" em França, é a todos os níveis deplorável. Não precisamos de importar o caos e a anarquia que importa a umas franjas extremistas da política e de igual modo a uma faixa social indesejável de marginais. Não, em defesa de todos nós... não precisamos disso. Não queremos isso!

Somos um pais racista? Então e na PSP não há agente de raça negra? Teremos que fazer uma discriminação racial de agentes a enviar para cenários de crime para que não seja acusada de racismo? Ou seja, teremos que segregar e discriminar racialmente para combater as ignóbeis acusações de racismo? Devemos usar racismo para combater racismo? Não!

Vivemos tempos perigosos, tempos conturbados, tempos confusos e difusos de desnorte, tempos em que não se reconhecem as instituições do Estado e a sua autoridade, tempos em que se invertem os papeis, tempos em que, aparentemente, se pode tudo.

Mas nem todos querem que "se possa tudo", muitos querem ordem, ideais e valores. Eu não quero que se possa tudo. Quando se quer que "se possa tudo" numa esquizofrenia mascarada de direitos e liberdades, cai-se numa outra loucura que se chama libertinagem, dando espaço à negligência sobre a democracia.

Eu quero viver numa sociedade equilibrada e justa e considero convictamente que a polícia não está senão do lado de todos. É o garante da nossa sociedade equilibrada, justa e ordenada. 

Contra os que insistem em seguir outros caminhos que não o da normalidade de um Estado de Direito, dos que querem viver refugiados em leis próprias, em códigos sem ética nem valor social, em esquemas marginais à sociedade. Todos temos os mesmos direitos, mas todos temos os mesmos deveres.

Não há uns sem os outros. A polícia é constituída por seres humanos, homens e mulheres formados e formatados pelo Estado português para cumprirem o seu dever e a sua missão. Se também erram? Claro que sim, por vezes sim. É uma condição, não da PSP, mas da espécie humana. Devem ser apedrejados, agredidos, violentados, provocados? Não, claro que não, mas acontece e muitas mais vezes que o desejado, em prejuízo deles próprios, de todos nós e da democracia.

São os dois lados da mesma moeda que nos permitem viver numa sociedade livre, aberta, igualitária e próspera. Não pode alguém arrolar-se o direito de disputar argumentos com a autoridade como se de um opositor natural se tratasse.

Sei bem de que lado estou e sei bem de que lado devemos estar. Do lado do Estado de direito democrático, da ordem e da normalidade.

A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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