Porque temos tendência para escolhermos a pessoa errada?

A educação e as vivências infantis podem influenciar na escolha do parceiro amoroso. Quem o diz é Fernando Mesquita, sexólogo do programa “Casados à Primeira Vista”.

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Quando as coisas não estão bem, a pessoa deve procurar sair dessa relação, aconselha o especialista Eric Ward/Unsplash

Por mais que procurem, parece que certas pessoas estão destinadas a escolher a pessoa errada. Fernando Mesquita, sexólogo e psicólogo clínico, esclarece o porquê desta tendência: a culpa é dos pais. “Temos casos de pessoas cujos pais eram conflituosos. Numa fase adulta, essas pessoas ou pensam que a relação amorosa é isso e terão uma relação onde existem muitos conflitos. Ou, pelo contrário, podem ir interiorizando, ‘não é isto que eu quero quando tiver uma relação’ e depois evitam a qualquer custo ter relações deste tipo”, diz o psicólogo que foi convidado a integrar o elenco de especialistas do programa Casados à Primeira Vista.

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Fernando Mesquita é psicólogo clínico e já publicou vários livros Rui Gaudêncio

No seu novo livro, Deuses Caídos, da editora Saída de Emergência, caracteriza o tipo de pessoas com quem se pode partilhar uma relação amorosa; ao todo são 14. Entre eles estão os ‘Desesperados por Relações Amorosas’, que acreditam que “a vida não tem sentido sem alguém a seu lado”; os ‘Viciados em Sexo’, que têm uma fixação pela prática sexual; os ‘Acomodados’, que não fazem qualquer esforço pela relação; os ‘Narcisistas’, que julgam que “o mundo gira à sua volta”; e os ‘Manipuladores’, que escondem a sua verdadeira personalidade e aos poucos se vão revelando. Todos os perfis apresentados pelo sexólogo no livro apresentam características tóxicas e foram traçados a partir de casos que lhe chegam ao consultório. 

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Capa do novo livro de Fernando Mesquita DR

O especialista também recebe pessoas que estão convencidas que os seus parceiros podem mudar de comportamento. “Nunca devo pensar que vou conseguir mudar uma pessoa. Mudamos apenas quando queremos e não quando os outros exigem”, adverte. “A probabilidade de o conseguirmos [mudar] é muito baixa e a de sairmos frustrados é muito alta”, diz, acrescentando que se a mudança é impossível, a adaptação já é mais fácil de conseguir. “Se eu for um ‘Acomodado’, mas do outro lado tiver um parceiro que não permite que eu tenha essas características, se calhar acabo por não ser tanto", exemplifica.​

Contudo, há mesmo quem consiga manter uma relação saudável. O psicólogo acredita que o critério A.M.A.R – sigla que criou para os verbos Agir, Motivar, Aceitar e Respeitar – está na base do sucesso das relações. Ao contrário das personalidades tóxicas, estas pessoas procuram “viver o lado positivo da vida, mesmo nos momentos difíceis”. Isto não quer dizer que não existiam problemas e conflitos no casal, mas há um empenho conjunto para resolver os dilemas, pelo que a felicidade “corresponde a um saldo positivo entre as dificuldades e os prazeres da vida a dois”, resume Fernando Mesquita. 

O especialista reconhece que ainda existem pessoas que se apaixonam e continuam juntas durante toda a vida. No entanto, o sexólogo deixa um alerta para os perigos do mito do ‘amor à primeira vista’. “Mesmo que eu esteja a ser maltratado ou a ser desvalorizado na relação, se acreditar que este é o meu amor para a vida vou-me sujeitar a este tipo de relação”, exemplifica, condenando este tipo de atitude. Também é “arriscado” para quem começa uma relação e “sente que aquilo ainda não passou para a fase de amor”. Nesses casos, o conselho é para que procure outra pessoa.

Texto editado por Bárbara Wong

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