O passeio anual a Davos

Quem quer ser importante ou relembrado no mundo dos negócios vai a Davos. É para isso que este fórum serve. Para fazer negócios.

Recentemente terminou mais uma cimeira em Davos, organizada pelo Fórum Económico Mundial, que conta sempre com a participação de milhares de pessoas, nomeadamente políticos e administradores de grandes empresas e de multinacionais. Mas quem pode participar nestas cimeiras, que resultados concretos são obtidos e implementados?

A maior parte dos participantes são quase sempre os mesmos, tendo que pagar milhares de euros para estar presente. Trata-se de um fórum de ricos e poderosos, mas que nada resolve para o comum dos mortais.

É o local ideal para esses administradores efetuarem contactos, conhecer e rever pessoas influentes, sendo que mais tarde acaba por compensar o tempo e dinheiro investidos. Quem quer ser importante ou relembrado no mundo dos negócios vai a Davos. É para isso que este fórum serve. Para fazer negócios.

Hierarquia de jantares e festas exclusivas para políticos, administradores e celebridades fazem parte dos dias da cimeira. Quanto mais se pagar, mais exclusivo é o acesso. São eventos ainda mais reservados, em que certamente se procura discutir tudo, menos os problemas mundiais.

O Fórum Económico Mundial, criado em 1971, tem como objetivo promover o debate entre políticos e líderes empresariais sobre questões importantes que o Mundo enfrenta, mas lentamente a sua missão foi sendo desvirtuada.

Nos documentos de trabalho e relatórios finais, são escritas frases que impressionam apenas os mais desatentos ou os mais inocentes. “As desigualdades devem ser diminuídas”, “os benefícios da globalização devem ser repartidos” ou “crescimentos mais inclusivos”, são meros clichês, não passando disso mesmo. Na verdade, o que se passa em Davos é um encontro exclusivo de pessoas que pagam principescamente a sua entrada, à espera de benefícios para aumentarem ainda mais as suas fortunas.

Trata-se de uma cimeira que prima pela inércia e pela opulência. Uma verdadeira afronta a quem diariamente trabalha de verdade. Em vez de procurarem debater e encontrar soluções para os problemas que o mundo enfrenta, procuram resolver os problemas do “mundo” deles.

Não podemos condenar que estas pessoas se encontrem num local que entendam para procurarem fazer os seus contactos ou negócios. São livres de o fazer. O que se pode e deve criticar é que à luz de uma iniciativa que deveria promover a inclusão, debater as desigualdades e as alterações climáticas, seja usada para promoção social e económica dos participantes e dos interesses que representam.

Este ano, a “estrela” da cimeira foi o novo Presidente do Brasil, que aproveitou o evento para se apresentar e se promover nesta elite de personalidades, seguindo as pisadas de Donald Trump em 2018. Quem será o populista que em 2020 irá sobressair?

Certamente em janeiro do próximo ano, haverá mais uma oportunidade para aterrarem em Davos outros tantos 1500 jatos particulares e voltarem carregados de novos contratos, enquanto o Mundo continuará à espera de qualquer coisa que ninguém sabe o quê ao certo.

Vale a pena pensarmos nisto.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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