O Mundo Perdido do Pavilhão de Portugal

São demasiados dinossauros e muitas múmias para um espaço tão nobre e simbólico para Portugal.

Ouvi nos últimos dias, na rádio, um anúncio que divulgava uma exposição localizada no Pavilhão de Portugal e que tem como principal atração um esqueleto do Tyrannosaurus rex. Já em 2017, com maior aparato mediático, que incluiu spots televisivos, teve lugar, no mesmo local, uma exposição dedicada a Tutankhamon. Face a esta vocação para grandes exposições mediáticas que este espaço assumiu, com interesses comerciais evidentes, procurei verificar se existia no site do Pavilhão de Portugal alguma nota relativa a outros programas ou atividades em curso e deparei-me, apenas, com informações de uma empresa de catering que se dispõe a realizar, em espaços exclusivos, eventos, congressos e casamentos.

Não me cumpre aqui contar toda a história que levou à construção e instalação do Pavilhão de Portugal e ao seu papel na nossa Expo mas, como cidadão, entendo ser meu dever lembrar que não foi esse o destino traçado pelo Governo de Passos Coelho quando entregou, em 2015, este espaço à Universidade de Lisboa. Passo a citar o texto legal aprovado em Conselho de Ministros, de 28 de maio de 2015 (Decreto-Lei n.º 141/2015), com as assinaturas de Maria Luís Albuquerque, Rui Machete e Nuno Crato: “A transferência, para a UL, do 'Pavilhão de Portugal' e da respetiva 'Pala Cerimonial' (...) visa conferir um uso compatível com a finalidade de interesse público destes edifícios e com a sua classificação como património cultural, em consonância com as suas características e com a sua vocação de espaço de referência, cuja estética e singularidade constituem aspetos essenciais a preservar e a potenciar. Este objetivo é assegurado através de um protocolo a celebrar com a UL, prevendo a realização de exposições de divulgação e promoção do conhecimento nos domínios da energia e ambiente, das cidades e arquitetura e da lusofonia.”

Passados mais de três anos, e tendo dado o benefício da dúvida, resta-me denunciar esta mutação do Pavilhão de Portugal numa espécie de Parque Jurássico depois de ter albergado, um ano antes, um simulacro do sarcófago de Tutankhamon. São demasiados dinossauros e muitas múmias para um espaço tão nobre e simbólico para Portugal. Como e porque tudo isto aconteceu ficará por esclarecer mas creio que nem mesmo Sir Arthur Conan Doyle, que escreveu essa magnífica obra intitulada O Mundo Perdido, teria imaginação para colocar o seu herói, Sherlock Holmes, na pista da explicação deste mistério.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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