Conterrâneos

O temporal foi o pano de fundo ideal para este vinho encantador com sabor a praia, a alperce seco e a uva verde.

Por entre a chuva e a ventania espreitei Francisco Figueiredo a entrar num restaurante. Deixa cá segui-lo, decidi imediatamente, por ser ele o enólogo da Adega Regional de Colares e estar acompanhado por uma cesta cheia de garrafas.

Fingindo um acaso fui-me sentar na mesa ao lado da mesa dele. Ele apresentou-me o companheiro de almoço, o importador americano dos vinhos da Adega. Estes almoços com importadores são sempre bem regados e, sendo várias as garrafas e eles só dois, sobram sempre umas provas para os copos circundantes. Há dias de sorte – e este era um deles.

Provei primeiro o Malvasia branco 2016, ficando-me prometido o Malvasia branco 2017, ainda sem rótulo, engarrafado há uma semana. Que excitação! Lembrei-me de ir à Adega para assistir à chegada e pesagem destas uvas tão raras e elegantes. Partilhar durante um ano inteiro um clima e um lugar com uma uva cria uma irmandade com o vinho.

Moro na mesma casa que este vinho e todos os anos ele surpreende-me com pequenas diferenças e pequenos mas seguros melhoramentos. O temporal foi o pano de fundo ideal para este vinho encantador com sabor a praia, a alperce seco e a uva verde. É de longe o melhor Malvasia de Colares que já provei.

Até provar o de 2017. Depois de 15 meses de estágio está fresquíssimo, cheio de electricidade e fruta, como se só hoje tivesse vindo ao mundo. Tenho finalmente a prova que este vinho precisa de 15 meses só para nascer. Como será o resto da vida dele? Ainda vai esperar dois meses em garrafa. Falamos então em Março. 

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