Pensar a empregabilidade digital em Portugal

A forma como a mudança tecnológica for assimilada pela sociedade ditará o sucesso da expansão do emprego digital em Portugal.

Foi recentemente apresentado pela CIP o estudo “Automação e futuro do emprego em Portugal”, que estima o impacto da transformação digital e da automação tecnológica no mercado de trabalho português. E, partindo da ideia de que a automação pode acelerar a produtividade nas empresas, alerta também para o impacto que esta pode vir a ter nos diversos sectores de atividade económica ao nível da destruição de emprego.

Como referia o Livro Verde sobre as Relações Laborais 2016, apresentado pelo MTSSS, de acordo com o Índice de Digitalidade da Economia e da Sociedade, em 2016 Portugal era o 9.º país da Europa com maior integração de tecnologia digital pelas empresas, aumentando três lugares de 2015 para 2016, posicionamento que mostra a relevância do desafio de pensar o trabalho na era digital. Assim, considerando que o desenvolvimento do emprego digital tem sido muito dinâmico – dado o crescimento médio anual deste emprego desde 2000 –, esta evolução coloca decisivos desafios, em particular a necessidade de implementar uma estratégia integrada para a empregabilidade digital em Portugal, promovida junto de trabalhadores e empresas, também no sentido quer de modernizar o tecido empresarial assente na economia do conhecimento, quer de internacionalizar empresas de base tecnológica, condição indispensável ao desenvolvimento do país.

Sabendo-se que as empresas procurarão elevar os seus níveis de produtividade, urge antecipar a mudança e, sobretudo, o impacto da automação na destruição de emprego, assim como a emergência de novas formas de trabalho. Em particular, importa pensar a “formação para adultos” para a próxima década, concebendo e implementando um plano de requalificação laboral, assente no reforço do investimento em capital humano, desenvolvido ao nível da educação, da formação profissional e da aprendizagem ao longo da vida.

Neste âmbito, caberá gizar o acesso à formação numa perspetiva integrada que associe as necessidades de competências a adquirir por sector económico ou empresa à aprendizagem ao longo da vida. Deste modo, cumprirá rever planos de formação ao nível do reconhecimento de um conjunto de competências fundamentais, competindo aos empregadores identificar, a prazo, os défices de competências, procurando ajustar os planos de formação não só à produtividade das empresas e manutenção de postos de trabalho, como também ao desenvolvimento profissional dos trabalhadores, permitindo aumentar a sua empregabilidade.

E sendo uma prioridade em Portugal, a Estratégia para a Empregabilidade Digital – que tem como base não só um conjunto de orientações europeias mas também iniciativas nacionais, como o Programa Horizonte 2020 – deverá assumir como vetores de intervenção: aumentar em larga escala os recursos humanos qualificados aos diversos níveis em TIC; agilizar modelos de negócio e captar oportunidades no mercado global; assim como sensibilizar a população para as TIC como oportunidade de empregabilidade. Deste modo, deverá contribuir para o desenvolvimento de formas de emprego digital, promovendo sinergias entre o sector privado e sector público e apostando na internacionalização e na formação e qualificação dos recursos humanos, assente em processos de aprendizagem ao longo da vida.

O futuro do país estará condicionado pela ação da mudança tecnológica, pelo que a forma como esta for assimilada pela sociedade – mediante o aproveitamento das oportunidades oferecidas pela estratégia de desenvolvimento de competências digitais, resultante quer da promoção de práticas de aprendizagem baseadas nas TIC, quer ainda da formação generalizada de ativos, empregados ou desempregados – ditará o sucesso da expansão do emprego digital em Portugal.

A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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