CP explica por que é que comboio perdeu motor a meio do percurso

Fractura de veio de transmissão terá originado "a quebra de um dos apoios do motor diesel", diz a CP.

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Unidade Tripla Diesel da série 592 (imagem de arquivo) NELSON GARRIDO

Terá sido a "fractura do veio de transmissão entre um motor diesel e a caixa de transmissão" que provocou a "avaria" na noite de quinta-feira numa automotora espanhola, ao serviço da CP, que fazia a ligação entre o Porto e Valença (linha do Minho), adiantou esta sexta-feira a empresa, em comunicado. O comboio inter-regional perdeu o motor e ficou imobilizado perto de Afife, pelas 21h40 de quinta-feira.

A CP explica agora que o problema ter-se-á ficado a dever "à fractura do veio de transmissão entre um motor diesel e a caixa de transmissão que terá originado a quebra de um dos apoios do motor diesel”. O problema aconteceu com o comboio regional que saiu do Porto às 20h15 com destino a Valença, onde deveria chegar às 22h20. 

O incidente não teve outras consequências a não ser danos materiais na composição e na via-férrea. Mas os passageiros é que não ganharam para o susto pois o motor caiu com a automotora em andamento, tendo sido arrastado, com grande ruído, debaixo da composição ao longo da via, levantando balastro e danificando travessas. O risco de descarrilamento esteve iminente.​

A CP adianta que “providenciou transbordo para os 15 passageiros que estavam a bordo, em táxis” e que a unidade foi rebocada por um “comboio socorro, de madrugada”, tendo sido encaminhada para “a oficina de Contumil", onde equipas da CP e da EMEF (Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário​) vão efectuar as "necessárias análises técnicas para apurar as circunstâncias e causas desta ocorrência, bem como eventuais medidas preventivas e correctivas que se revelem necessárias”.

A composição avariada é uma Unidade Tripla Diesel da série 592, uma das 20 automotoras que a CP alugou à sua congénere espanhola Renfe para suprir a falta de material diesel e pelas quais paga sete milhões de euros por ano. Na passada segunda-feira, o Governo autorizou a CP a alugar mais quatro automotoras da mesma série, pelas quais pagará mais 4,6 milhões de euros para os próximos quatro anos. 

Para José Manuel Oliveira, dirigente da FECTRANS, este acidente demonstra que a opção por comboios espanhóis foi errada e “dá força” ao que têm vindo a dizer que estes "não são solução para a falta de material em Portugal". Deve-se antes, disse à Renascença, reparar o que "existe e está imobilizado" e só depois avançar para a aquisição de novos equipamentos. 

Também a Associação de Utentes de Comboios de Portugal não estranhou que o problema tenha acontecido com uma automotora alugada a Espanha. Nuno Lopes, ouvido pela Renascença, lembra que não é a primeira vez que se registam incidentes com estas composições. Parte destas automotoras já estão "obsoletas", lamenta, adiantando que já ouviu relatos, "por exemplo na linha do Douro, de um comboio pegar fogo".

A CP enfrenta uma dramática falta de material circulante, oficinas que não têm pessoal para manter e reparar os comboios, que estão velhos e sujeitos a rotações cada vez maiores, o que aumenta a probabilidade de avaria.

O material a diesel – que tem uma idade média de 50 anos – é o que está em pior estado. Dentro de pouco tempo, 25% das automotoras a diesel estarão imobilizadas, o que agravará as supressões, que já hoje serão diárias. A CP paga mesmo sete milhões de euros por ano à sua congénere Renfe pelo aluguer de 20 automotoras a diesel que têm estado a operar no Douro e no Minho. Mas até este material é velho e sujeito também a constantes avarias.

Este aluguer, que se iniciou em 2010, era para durar apenas cinco anos, o tempo que à data se esperava que a então Refer demorasse a electrificar as linhas para depois se usar material eléctrico. Mas os projectos não avançaram.

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