Juíza americana culpa regime de Assad pela morte de Marie Colvin

Regime sírio condenado a pagar 302,5 milhões de dólares de indemnização pela morte da jornalista num bombardeamento em Homs, no início da guerra.

Foto
Marie Colvin foi morta em Fevereiro de 2012 Stefan Wermuth/REUTERS

O Governo de Bashar al-Assad “cometeu um acto de assassínio extrajudicial de uma cidadã norte-americana”, devendo pagar pelo menos 302,5 milhões de dólares, decidiu a juíza norte-americana Amy Berman Jackson.

Marie Colvin, jornalista do jornal britânico The Sunday Times, e o fotógrafo Rémi Ochlik, da revista Paris Match, foram mortos em Fevereiro de 2012 na cidade de Homs, na Síria, onde estavam a cobrir a guerra civil, depois de um bombardeamento do exército sírio contra o edifício onde estavam e que era usado por jornalistas.

Pouco antes do ataque, Colvin tinha falado a várias televisões sobre o que estava a acontecer: “É uma completa e total mentira dizer que eles só estão a ir atrás dos terroristas”, disse à CNN. “O exército sírio está simplesmente a bombardear uma cidade com civis com frio e fome.”

O regime sempre negou ter atingido propositadamente jornalistas.

Mas em 2016, a família de Colvin decidiu avançar com uma queixa judicial, acusando responsáveis do regime de Assad terem lançado deliberadamente rockets contra o local onde vários jornalistas estavam a viver e a trabalhar.

A queixa, de 33 páginas, foi baseada numa investigação de quatro anos pelo Center for Justice and Accountability, uma organização sem fins lucrativos especializada em abusos de direitos humanos.

Um antigo responsável sírio entretanto a viver na Europa contou ao tribunal como o regime estava a tentar seguir os jornalistas estrangeiros que conseguiam entrar (ilegalmente) na Síria.

Os serviços secretos usariam sistemas de intercepção de sinal de satélite que poderiam detectar o seu uso – poderia ter sido pelas entrevistas dadas por Colvin que a localização dos jornalistas foi descoberta pelo regime. Estas não passaram pelo sistema de reencaminhamento que os jornalistas vinham a usar para não serem localizados. 

A morte de Colvin aconteceu numa altura inicial da guerra civil, quando Assad tentava silenciar os media locais e internacionais – mais de cem jornalistas, a maioria sírios, morreram na guerra. Assad, que entretanto teve a ajuda decisiva da Rússia (e do Irão), praticamente já a venceu.

Marie Colvin tinha estado em zonas de guerra e conflito desde a Tchetchénia, Kosovo, Serra Leoa, Zimbabwe, Timor Leste ou Sri Lanka – onde os estilhaços de uma explosão levaram a danos num olho; desde então uma pala negra que usava tornou-se a sua imagem de marca.

A família de Colvin, nova-iorquina a trabalhar há décadas com base em Londres, decidiu processar o regime de Assad em 2016.

A decisão desta quinta-feira cobre uma parte da indemnização, uma segunda parte será ainda determinada mais tarde.

O caso de Colvin ganhou atenção redobrada não só por causa do processo, mas sobretudo com o filme Uma Guerra Pessoal, com a actriz britânica Rosamund Pike.

Sugerir correcção
Ler 9 comentários