Um homem e uma parede vertical

Free Solo conta a odisseia de Alex Honnold para escalar El Capitan. Conquistou o Óscar de melhor documentário, teve sessões especiais de cinema em Portugal e estreia em Março na tv.

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Granito. Uma parede vertical de cerca de 915 metros de altura, mais alta do que o mais alto edifício do mundo. A 3 de Junho de 2017, Alex Honnold escalou a solo — sem protecção, nada para além das suas próprias mãos e pés — El Capitan, no Vale de Yosemite (Califórnia, EUA), uma autêntica pista de obstáculos que muitos escaladores veteranos levam vários dias (e muitas cordas) a transpor. Ele completou a rota em menos de quatro horas. 

“É o meu sítio preferido em todo o mundo”, costuma dizer Alex, então com 31 anos quando se lançou definitivamente à parede, escalada pela primeira vez em 1958 — nessa altura foram 46 dias de escalada espalhados por 16 meses até o topo ser atingido. “Escalar sem corda”, assume o norte-americano, “não é apenas um desafio físico, mas mental”. “Eventualmente todos vamos morrer um dia. Aqui, temos noção de que se algo correr mal, morremos. Apenas isso”, sublinha. “Tenho medo de morrer como qualquer pessoa. E gostaria muito de não morrer enquanto escalo. Pensava ‘não quero ultrapassar o meu medo, quero sair dele'”.

Tommy Caldwell, que em 2015 também fez história ao escalar o Dawn Wall, a escalada mais difícil do El Capitan, descreveu esta aventura como “a alunagem da escalada em solo”. Tommy e o colega Kevin Jorgeson usaram cordas e equipamentos por questões de segurança e nunca para ajudar no progresso da escalada (escalada livre). Ao invés, na escalada em solo, o esclador está sozinho e não usa cordas nem nenhum outro equipamento que o ajude ou o proteja, não deixando margem para erros.

Free Solo é precisamente o nome do documentário da National Geographic realizado por Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin (parceiro de escalada de longa data) e filmado por uma equipa de escaladores. “São dois anos da minha vida, um retrato honesto. Está tudo lá”, diz Alex Honnold, que esteve três horas e 56 minutos sozinho com El Capitan. “Estacionou a carrinha e subiu por entre rochas até à base do penhasco. Quando lá chegou, calçou um par de sapatos de escalada de sola aderente, prendeu na cintura um pequeno saco de giz para manter as mãos secas, encontrou a primeira saliência de apoio e começou, aos poucos, a subir rumo à história da escalada”, escreveu a National Geographic, que acompanhou todos os movimentos desta odisseia — podemos aproximar-nos de Alex neste vídeo 360.

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Alex Honnold no momento em que chegou ao topo

A via escolhida por Honnold para alcançar o topo do El Capital, também conhecida por Freerider, é uma via com 30 secções, uma linha sinuosa que percorre várias redes complexas de ranhuras e fissuras. “Ao longo do trajecto, Honnold encolhe-se para atravessar estreitas chaminés, utiliza a ponta dos dedos dos pés para se deslocar em saliências do tamanho de caixas de fósforos e, em algumas zonas, balança-se no ar segurando-se apenas com a ponta dos dedos das mãos”, descreve a National Geographic, com uma lista de pré-requisitos para alguém que esteja a pensar repetir a façanha: “O Freerider é um teste a praticamente todos os aspectos das capacidades físicas de um escalador: força de dedos, antebraços, dedos dos pés e do abdómen, bem como flexibilidade e resistência. Os factores ambientais, como o sol, o vento e a possibilidade de tempestades repentinas, são igualmente aspectos que Honnold tem de calcular cuidadosamente.”

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O nível de dificuldade é tão elevado que, nos últimos anos, mesmo quando um escalador chegava ao cume utilizando cordas de segurança, o feito era noticiado. “Sentimo-nos insignificantes”, assume Alex, que passou um ano a coreografar milhares de movimentos precisos para ultrapassar a secção conhecida por Freeblast, que quase não apresenta costuras da rocha. “É como escalar uma parede de vidro”, descreve Alex, que passou quase uma década a pensar nesta parede. “Achava que era uma parede que merece estar no grande ecrã”, diz hoje.

A “parede mais inspiradora do mundo” vai estar Cinema S. Jorge, em Lisboa (11 de Março), e no Cinema Trindade, no Porto (12 de Março), sendo que as duas sessões estão completamente esgotadas — não está prevista qualquer outra sessão suplementar. Refira-se que a exibição do Free Solo é uma extensão do Festival de Cinema Aventura que a Nomad organiza no Mercado de Matosinhos.

Actualização: O filme viria a conquistar o Óscar de Melhor Documentário (já depois de ter ganho o BAFTA britânico na mesma categoria). Contando com dois portugueses na ficha técnica, tem estreia televisiva marcada para 17 de Março no canal da National Geographic.

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