Ex-presidente da Renault: "Fui vítima de um golpe da Nissan"

Ex-homem forte dos carros franceses e japoneses, detido há dois meses, acusa nipónicos de "traição", porque estes se opunham a uma fusão.

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Reuters/Regis Duvignau

Carlos Ghosn continua detido há 70 dias mas já não fica calado. Numa entrevista dada a um jornal japonês, o ex-líder da Renault e da Nissan acusa os parceiros japoneses de "traição". Acredita que está detido há dois meses porque foi vítima de uma "conspiração". Os japoneses não concordavam com o plano dele para uma fusão entre as duas empresas. E por isso, garante Ghosn, deram o "golpe".

O que diz Carlos Ghosn, de 64 anos, interessa a todo o sector. Afinal, um em cada nove carros vendidos no mundo em 2018 foi feito pela aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, num total de 10,76 milhões de carros vendidos – colocando o grupo no segundo lugar da indústria, atrás da alemã Volkswagen (10,80 milhões de carros vendidos).

"Havia um plano para integrar" a Renault, a Nissan e Mitsubishi, diz o gestor francês, a propósito da aliança forjada em 1999 e que une aqueles três fabricantes, que empregam 450 mil pessoas em todo o mundo. Esse plano foi discutido em Setembro de 2018 com Hiroto Saikawa, presidente executivo da Nissan. Ghosn afiança que quis envolver o homólogo da Mitsubishi, Osamu Masuko, nessa reunião de Outono passado, mas "Saikawa preferiu uma encontro um-a-um".

O ex-homem forte da Renault, que deixou os cargos no construtor francês há uma semana, disse ao jornal Nikkei Asian Review que a proposta dele seria dar "autonomia à Nissan e à Mitsubishi sob a gestão de uma holding única". A Renault detém 43,4% da Nissan, que detém 15% do construtor francês e 34% da Mitsubishi.

Em termos de negócio, os japoneses têm a empresa maior nesta parceria, mas no quadro da aliança têm menos poder. Fontes próximas de Ghosn asseguram que os japoneses temiam a concentração de mais poderes na figura de Ghosn. Era acusado de gerir os negócios num estilo "ditatorial". Ele refuta.

"As pessoas confundem liderança forte com ditadura para distorcer a realidade, com o objectivo de se verem livres de mim", argumenta, nesta entrevista, a primeira desde a detenção de 19 de Novembro, no aeroporto de Tóquio.

Desde então, Ghosn está preso preventivamente, acusado de ocultar quase 70 milhões de euros de remunerações, entre 2010 e 2018. Além disso, foi acusado de abuso de confiança, por ter recorrido a 13 milhões de euros da Nissan para cobrir prejuízos sofridos em investimentos pessoais.

O gestor nega cada uma das acusações nesta entrevista. Garante que o pagamento de 7,82 milhões de euros através de uma sociedade constituída pela aliança na Holanda é "uma distorção da realidade". Diz que os mais de 13 milhões pagos para cobrir os prejuízos dele foram "aprovados por quem de direito". O mesmo diz em relação à compra de casas de luxo no Rio de Janeiro e em Beirute.

"Cometi algum acto inapropriado? Não sou advogado, não sei interpretar tais factos", declarou Ghosn nesta entrevista, mostrando-se frustrado com a investigação interna da Nissan. "Se era conhecida de todos, porque não me avisaram?"

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