CDS contra a receita “das esquerdas” e o fantasma do regresso do PREC

Cristas insiste que partido pode ser a primeira alternativa ao socialismo, Melo endurece discurso contra PCP e BE.

Líder do CDS
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Líder do CDS LUSA/HUGO DELGADO
Assunção Cristas nas jornadas do CDS
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Assunção Cristas nas jornadas do CDS LUSA/HUGO DELGADO

A mensagem do CDS-PP para os próximos meses parece estar definida: colocar o partido como (a única) alternativa ao Governo apoiado por uma maioria de esquerda, criticar a falta de investimento no sector público e sublinhar a necessidade de criação de riqueza para “pagar as contas” na saúde e educação.

A “receita das esquerdas unidas não serve o país”, apontou Assunção Cristas nesta terça-feira, no final das jornadas parlamentares do partido, em Braga, onde se ouviu também uma mensagem mais dura contra a esquerda. Foi pela voz de Nuno Melo, vice-presidente do CDS, que aproveitou a oportunidade de, enquanto cabeça de lista às europeias, arrasar as posições de PCP e BE quer sobre as intervenções policiais quer sobre a Venezuela.

A seis meses das férias parlamentares, Assunção Cristas estabeleceu as linhas gerais de actuação da bancada: forçar os restantes partidos a tomar posição sobre propostas de justiça, acrescentar outras medidas ao pacote já apresentado, avançar com uma proposta sobre o cuidador informal e insistir na necessidade de crescimento económico e de investimento. “Precisamos de riqueza a ser criada para poder pagar as contas, acabar com asfixia fiscal que leva os trabalhadores a terem de trabalhar seis meses para pagar os impostos”, disse no discurso de encerramento das jornadas, numa sala de um hotel de Braga, perante os deputados.

Com o crescimento económico como prioridade na agenda, a líder do CDS criticou a solução da maioria de esquerda. “A receita socialista que nos oferecem, nos últimos anos, com as esquerdas unidas, não é a receita que serve ao país. Ou vamos lá com uma mudança significativa ou não sairemos deste estado”, disse, rejeitando também o “legado das esquerdas” do Governo socialista de Sócrates, que “também não serve ao país”, disse.

Já na noite anterior, perante algumas dezenas de militantes num jantar em Famalicão, Assunção Cristas voltou a garantir que o voto no CDS “não vai parar às mãos de António Costa”. Sem se referir explicitamente ao PSD, a líder do CDS insistiu que o partido está a trabalhar (e com muita antecedência) na primeira alternativa: “E sim, podemos ser a primeira escolha. E se tivermos a maior fatia [de uma maioria], tanto melhor”. Caso esta estratégia falhe, Cristas promete continuar a fazer oposição a António Costa e ao socialismo.

Na mesma noite, o CDS-PP mostrou que pode endurecer o discurso contra a esquerda, sobretudo, contra PCP e BE, mas também contra o PS de Sócrates. O eurodeputado Nuno Melo, que foi o "convidado-estrela" numas jornadas dedicadas também à Europa, alertou para o risco de o Governo PS levar o país à bancarrota ao permitir que a dívida pública continue a subir em valor absoluto. E referiu-se ao ex-primeiro-ministro socialista José Sócrates como “essa luminária” que recebeu o país, em 2005, “com 60%” de dívida face ao PIB e que, quando deixou o poder, em 2011, via esse valor "em 120%".

O eurodeputado e líder da distrital de Braga começou por apontar o exemplo do hospital da cidade, que é uma Parceria Público-Privada cujo contrato está em risco de não ser renovado por parte do Governo, como um caso de uma decisão baseada em "ideologia", que faz lembrar outros tempos. “Um Governo tão ideológico como este só nos tempos do PREC, só porque passados 40 anos o PREC voltou ao poder”, disse Nuno Melo, recebendo palmas.  PCP e BE também foram acusados de serem incoerentes com as posições que assumem com a Venezuela por “defenderem uma ditadura” quando “dão lições de democracia a torto e a direito”.

Perante uma audiência que mostrou entusiasmo com as críticas mais duras à esquerda, Nuno Melo reforçou: o voto em bloquistas e comunistas é “concretizar em 2018 o PREC que não conseguiram ter em 1974”. Estava dado o mote para condenar o Bloco por criticar a intervenção policial no bairro da Jamaica e depois para responder a António Costa sobre a “cor da pele” no debate quinzenal. Nuno Melo acusou o primeiro-ministro de usar um argumento “pateta”, como se fosse válido Assunção Cristas evocar a sua condição de mulher.

Já antes, Telmo Correia, vice-presidente da bancada, disse que a resposta de António Costa “bateu no fundo” e que vem de uma pessoa que foi “um privilegiado durante toda a vida”. O CDS respondeu assim ao primeiro-ministro, dias depois de a própria líder ter arrumado o assunto com uma frase lapidar – “fiquei com vergonha alheia” – no debate quinzenal.

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