Há uma nova Anabela Baldaque para descobrir no Porto

Designer marca os 33 anos na moda com uma segunda loja no Porto para um público mais jovem, turistas incluídos. Com uma colecção sem padrões e menos detalhes.

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Esta não é uma nova Anabela Baldaque. É a mesma designer de moda de sempre que, aos 53 anos, e depois de 33 de carreira, quer “sonhar e agir ainda mais, não ter medo de voar”. Entre os novos voos está a segunda loja que abriu recentemente no Porto, para um público mais jovem e com um piscar de olhos aos turistas. E o lançamento, ali mesmo, em finais de Fevereiro, de uma nova colecção. Neste espaço vai ainda fazer desfiles e cruzar outras artes com a moda. 

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A nova loja fica perto da artéria da arte, a Avenida Miguel Bombarda

É no seu novo espaço, a Bela Balda – quase diminutivos de Anabela Baldaque –, no número 59 da Rua de Adolfo Casais Monteiro, no quarteirão de arte da Rua Miguel Bombarda, que a designer de moda recebe o PÚBLICO. “A grande novidade desta estação é o desafio de ter uma peça única sem padrões e só com uma cor”, elucida, rodeada de charriots com coordenados de vestidos, saias e casacos de Inverno da anterior colecção ainda em saldo. “Sempre fez parte do meu ADN de marca juntar padrões, são a minha imagem de marca”, continua, satisfeita por ter um espécie de estúdio onde quer ter instalações artísticas, interligar vários tipos de arte, como passar curtas-metragens relacionadas com moda, por exemplo.

No novo espaço também será possível observar um artista plástico a reinterpretar uma peça de roupa de Anabela Baldaque no âmbito do seu novo projecto Pano para Mangas. E que coincidirá com os eventos das inaugurações de arte da Miguel Bombarda. A primeira iniciativa aconteceu por estes dias quando a artista Ana Vidigal fez uma intervenção artística num casaco de pano-cru, carimbando-o com setas azuis. O coordenado ainda está por lá exposto, próximo de uma parede com amostras de tecidos, fotografias de desfiles, uma tesoura dourada, alfinetes de bebé, entre outros objectos. Do lado de fora, espreita um jardim, onde Anabela Baldaque quer organizar desfiles das suas colecções e ter música ao vivo. 

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As propostas são mais descontraídas do que as da loja da Foz, também no Porto

Na Bela Balda é ponto assente que as colecções serão sempre diferentes das que a designer vai ter à venda na loja da Foz, o seu primeiro espaço que abriu há 19 anos no Porto. Teve uma loja em Lisboa que fechou. A da Foz “já ganhou maturidade” e é onde se encontram os coordenados “mais sofisticados, com mais detalhes” e mais caros também. Já na Bela Balda, as peças serão mais jovens, simples e práticas, num estilo urbano e descontraído – de T-shirts, camisas a vestidos, com menos detalhes do que o habitual e a um preço mais acessível, por exemplo uma camisa pode custar 80 euros e umas calças 90. Também os tecidos são diferentes nesta estação, desde sarjas a algodão, e nas cores vermelha, branca e azul com cinzas e bege à mistura. Já na loja da Foz reinam os tecidos mais nobres, como a seda, em tons pastel, amarelo palha, rosa e azul-bebé. 

Quando se fala em Anabela Baldaque associa-se a quê? “A cor, a qualidade, algo feminino e intemporal, porque os meus clientes de há 20 anos continuam a comprar”, responde. E muitos deles, “ainda mantêm peças mais antigas no guarda-fatos que só reestruturo o forro, por exemplo”.

Estudar em Paris e trabalhar em Itália

São 33 anos de carreira como designer de moda, com modelos como Claudia Schiffer a desfilar. “Lembro bem da emoção desse dia. Tínhamos umas cinco modelos de topo no evento”, recorda a designer que tirou o curso na Escola de Moda Gudi, no Porto. “E formei-me numa altura em que havia pouquíssimas escolas de moda”, lembra.

Seguiram-se mais nove meses numa escola de moda em Paris. “Deixou-me encantada, porque contactávamos com a cultura e tradições de alunos de países diferentes e abordávamos a moda de uma maneira também diferente”, explica. Foi nessa escola que Anabela Baldaque aprendeu a modelar uma peça em manequim. “Enquanto em Portugal fazíamos no molde de papel, lá pegávamos em pano-cru e espetávamos alfinetes e fazíamos tudo em cima do manequim”, descreve. O que dava mais asas à imaginação, acredita. “Só depois é que passávamos para o papel, o que era uma mais-valia, porque não ficávamos estanques no croquis”, explica. E agora? “É mais simplificado, mas não deixamos de fazer imensas provas da peça antes de sair para a produção”, responde.

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A designer teve uma loja em Lisboa que acabou por fechar

Depois da escola de Paris, a designer estagiou, durante dois meses, no atelier de alta costura de Emilio Pucci em Florença, Itália. Tinha apenas 20 anos e foi “o deslumbramento total num mundo mágico”, completamente diferente, com dezenas de italianos e americanos num corrupio de entra e sai no ateliê. “Era um palácio cheio de cores, lantejoulas, missangas, tecidos”, descreve com algum saudosismo daquele tempo. 

Já em Portugal, Anabela Baldaque criou a sua marca e participou em desfiles, como a primeira edição do Portugal Fashion, no Moda Lisboa, e noutros desfiles em Paris, Nova Iorque e São Paulo. Quando desenha as colecções, a designer inspira-se em tudo o que a rodeia. Mas anda sempre com papel e lápis na carteira para desenhar. “Também gosto de pôr a mão no tecido, porque depois quase que consigo desenhar uma peça mentalmente.”

Além dos coordenados, Anabela Baldaque também desenha cachecóis e lenços. Um dia, gostaria de ter sapatos, botas e carteiras com a sua assinatura. “Ainda me falta fazer muita coisa”, conclui sorridente.

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