Relatora da ONU do caso Khashoggi não pôde entrar no consulado saudita em Istambul

Missão que inclui especialista português procura pistas sobre o homicídio do jornalista saudita crítico dos caminhos segudos pela monarquia da Arábia Saudita.

Foto
Agnès Callamard e a sua equipa à porta do consulado ARIF HUDAVERDI YAMAN/EPA

O consulado saudita em Istambul negou a entrada nas suas instalações à relatora especial da ONU Agnès Callamard, que lidera uma equipa que investiga o assassínio do jornalista Jamal Khashoggi.

“Nós avisámos tarde as autoridades sauditas sobre a investigação no consulado. Precisamos dar-lhes um pouco mais de tempo para avaliar o nosso pedido. Queremos a permissão das autoridades para entrar no interior [do edifício]”, disse Agnès Callamard, citada pela agência de notícias turca Anadolu.

Khashoggi foi morto a 2 de Outubro naquele edifício, acusam as autoridades turcas. Foi visto pela última vez vivo a entrar ali. A equipa de investigadores da ONU é composta ainda pela advogada Helena Kennedy e pelo médico legista português Duarte Nuno Vieira.

O porta-voz do partido governamental turco Justiça e Desenvolvimento (AKP), Omer Celik, criticou duramente a recusa da entrada no consulado, falando na televisão turca A Haber. “É um escândalo que não tenham permitido a entrada. Deveríamos abrir uma investigação internacional” afirmou.

Durante os primeiros meses após o assassínio de Khashoggi, o Governo turco insistiu que o crime deveria ser resolvido e julgado pela justiça turca. Posteriormente, as autoridades de Ancara começaram a queixar-se da falta de cooperação dos sauditas e, nas últimas semanas, pronunciaram-se abertamente a favor de uma investigação internacional.

Agnès Callamard, relatora especial sobre execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias no gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, reuniu-se na segunda-feira com o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlut Cavusoglu, e com o ministro da Justiça, Abdulhamit Gul, mas não fez nenhum comentário depois.

De acordo com a Anadolu, a relatora especial da ONU pretende encontrar-se ainda em Istambul com o procurador Irfan Fidan, que lidera a investigação turca sobre o assassínio do jornalista saudita.

Agnès Callamard anunciou que vai lançar, em Maio, um relatório sobre o assassínio do jornalista Jamal Khashoggi.  “O relatório será lançado algumas semanas antes de apresentá-lo ao Conselho de Direitos Humanos da ONU (em Junho), em Genebra”, explicou.

Esta equipa da ONU está no terreno, até 3 de fevereiro, para recolher dados sobre as circunstâncias da morte do jornalista saudita.

Enquanto especialista forense, o ex-presidente do Instituto Nacional de Medicina Legal Duarte Nuno Vieira integrou já diversas missões internacionais em cerca de 30 países da Europa à América Latina, Ásia e África, no âmbito dos direitos humanos, sob a égide de instituições como a ONU, Cruz Vermelha Internacional, Comissão Europeia ou Amnistia Internacional, entre outras.

Jamal Khashoggi, colunista do jornal norte-americano The Washington Post, era um crítico aberto da monarquia do seu país e julga-se que terá sido morto e esquartejado por agentes sauditas, um crime que desencadeou uma vaga de indignação e condenação da comunidade internacional.

Onze pessoas foram indiciadas no caso deste assassínio, num processo aberto no início deste mês na Arábia Saudita, e a procuradoria saudita pediu a pena de morte para cinco dos acusados.

Sugerir correcção
Comentar