Podemos aberto a negociar apoio a Errejón, mas não esquece “traição”

Há quase duas semanas, Errejón surpreendeu o partido que ajudou a fundar ao anunciar o apoio à plataforma da actual autarca de Madrid. Podemos parece ter afastado hipótese de apresentar candidatura própria.

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Iñigo Errejón (esquerda) e Pablo Iglesias fundaram o Podemos Sergio Perez

O Podemos está disposto a negociar um potencial apoio à plataforma da autarca de Madrid, Manuela Carmena, para tentar pôr fim à crise interna causada pela entrada de Iñigo Errejón nas listas de Carmena, em rota de colisão com o líder do partido de esquerda radical, Pablo Iglesias.

Há menos de duas semanas, o anúncio de Errejón, um dos fundadores do Podemos, de que iria integrar as listas de Carmena nas eleições autárquicas marcadas para Maio apanhou o partido completamente de surpresa. Os dirigentes do Podemos manifestaram indignação com o comportamento de Errejón e de Carmena, e ficaram muito próximos de o acusar de traição.

Agora, como escreve o El País, “a fase da ira parece superada”. A direcção do Podemos indicou que pretende negociar a apresentação de uma lista única ao município da capital espanhola para enfrentar a direita, e não exclui falar com Errejón.

“Queremos ganhar Madrid. Na Comunidade estamos a trabalhar num processo participativo que pode incluir todos e trabalhamos também para poder dialogar e chegar a um processo com a máxima unidade possível”, afirmou esta segunda-feira a porta-voz do Podemos, Irene Montero.

O recuo dos líderes do Podemos parece ser produto do impacto causado pela crise interna que se abriu com a saída de Errejón. O último golpe foi a demissão do secretário-geral do partido em Madrid, Ramón Espinar, que era visto como um elemento próximo de Iglesias. “Na situação actual não existem as condições para levar o projecto do Podemos em Madrid para onde creio que deva dirigir-se”, justificou na sexta-feira Espinar, que também abandonou os seus lugares na Assembleia Municipal e no Senado.

A imprensa espanhola diz que a nova posição do Podemos é sobretudo fruto da pressão dos líderes regionais do partido que na semana passada assinaram uma declaração em que pediam “unidade e negociação”. A inclinação de Iglesias e da direcção nacional pela apresentação de uma lista própria em Madrid – não excluindo, porém, entendimentos pós-eleitorais – apenas ganhou mais força depois da crise com Errejón, acusado de “dinamitar todas as pontes”.

Apesar da abertura ao diálogo, Montero não deixou de impor uma condição a Errejón, mostrando que a sua “traição” está ainda fresca. Questionada sobre se o fundador do Podemos deverá comparecer à sessão do Conselho Cidadão Estatal, o órgão máximo do partido, na quarta-feira, Montero disse “rotundamente não”. “Ele saiu do Podemos, fundou outro partido e penso que nos deve deixar debater”, afirmou a porta-voz.

A crise mais séria que se abateu sobre o partido nascido das grandes manifestações anti-austeridade de 2011 acontece num momento particularmente difícil para o partido. Uma sondagem publicada esta segunda-feira pelo jornal La Razón mostra o partido em queda acentuada nas intenções de voto – está hoje nos 16% face aos 21% que obteve nas eleições gerais de 2016 – perante uma entrada fulgurante do Vox, de extrema-direita, que aparece com 10%. O estudo mostra também que o Partido Popular teria facilidade em regressar ao poder caso reeditasse o entendimento alcançado no governo andaluz, integrando uma coligação com o Cidadãos apoiada pela extrema-direita.

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