Investimento da Hovione no Seixal anima regresso da Margem Sul à indústria

Empresa farmacêutica vai construir nova unidade no Parque Empresarial Baía do Tejo. Região acredita que será um farol para atrair outras empresas. Objectivo é investir 200 milhões e criar mais de 200 postos de trabalho.

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Rui Gaudencio

O investimento da Hovione, multinacional portuguesa na área química-farmacêutica, no Seixal foi apresentado esta segunda-feira como um marco na transformação industrial da Margem Sul do Tejo, por tratar-se de uma primeira grande unidade de uma empresa ligada à investigação e ao conhecimento científico.

A multinacional comprou um terreno de 40 hectares no Parque Empresarial da Baía do Tejo – empresa pública do universo Parpública – para a instalação de uma nova unidade industrial num investimento nunca inferior a 200 milhões de euros e com um quadro de trabalhadores altamente qualificados acima das duas centenas.

A dimensão final da fábrica, assim como o total de postos de trabalho a criar, não foi revelada porque a estratégia da empresa é construir por fases, num período de dez anos, à medida da expansão da sua actividade empresarial em Portugal.

A Hovione, fundada em 1959, tem laboratórios e fábricas em Portugal, Irlanda, Macau e Estados Unidos da América, e dedica-se à investigação, desenvolvimento e produção de novos processos químicos e medicamentos para a indústria farmacêutica mundial. Em Portugal, onde emprega 1130 do total dos seus 1700 trabalhadores, tem fábrica em Loures, e toda a produção é para exportação.

O CEO da empresa diz que a visão é construir no Seixal um pólo de desenvolvimento assente no conhecimento. “O que queremos construir aqui é para o século XXI aquilo que as fábricas que criaram a Margem Sul foram para o século XX: uma actividade económica assente na inovação, que qualifique os jovens, atraia e fixe as pessoas e crie riqueza”, afirmou Guy Villax.

O líder da Hovione explica que escolheu o Seixal para a expansão da multinacional por ser um “concelho jovem”, com “mão-de-obra jovem e altamente qualificada”, pela proximidade a universidades e a redes de transportes, incluindo aeroportos a 30 minutos, “tanto o actual como o planeado”.

“Não existem empresas fortes em países fracos”, sublinhou Guy Villax, que apontou apenas como problema de Portugal o regime do Sistema de Incentivos Fiscais à I&D Empresarial (SIFIDE) por estar “focado na despesa” e não contemplar “o sucesso, quem dá lucro”.

O CEO da multinacional portuguesa referiu que a empresa emitiu recentemente um empréstimo obrigacionista de 50 milhões de euros, a 15 anos, para financiar a estratégia de expansão.

Satisfeito com a chegada da Hovione ao Seixal, o autarca Joaquim Santos diz que a nova unidade “corresponde integralmente à visão de desenvolvimento da câmara municipal” e reforça a “matriz industrial e produtiva” da região do Arco Ribeirinho Sul onde está em curso o “maior projecto de reconversão industrial do país”.

O presidente do município comunista disse ao PÚBLICO acreditar que a primeira fase da fábrica seja uma realidade ainda no actual mandato. “O processo de licenciamento poderá ficar concluído este ano e a construção começar no próximo ano”, indica Joaquim Santos.

Maior projecto da era Lisbon South Bay

A captação da Hovione para a Margem Sul foi apresentada pelo autarca do Seixal e pelo presidente da Baía do Tejo como o primeiro grande fruto da estratégia de promoção dos territórios industriais a sul do Tejo.

“Esta é uma data de extrema importância que resulta da Lisbon South Bay, marca de referencia geográfica”, disse o administrador da Baía do Tejo. Segundo o responsável, a taxa de ocupação destes parques empresariais do Estado aumentou mais de 30% com a entrada, nos últimos anos, de 84 novas empresas, para um total de 330.

Jacinto Pereira encara a Hovione como uma “âncora capaz de atrair outros investimentos e empresas” para estes territórios onde foram investidos, desde 2014, mais de 20 milhões de euros em requalificação de terrenos e edificado.

Ministro quer cinco mil milhões para investigação

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior aproveitou o exemplo da Hovione, o maior empregador privado de doutourados em Portugal, com 320 técnicos e cientistas, para destacar o objectivo do Governo de em dez anos atingir os 3% do PIB em despesa com investigação .

“Hoje a despesa global com investigação é de 2500 milhões e euros por ano – 52% do sector privado e 48% do público – e a convergência [com a Europa] implica duplicar esse valor”, disse Manuel Heitor.

O plano governamental até 2030 tem como objectivo a criação de 25 mil postos de trabalho de elevada qualificação, afirmou o ministro, avisando que se trata de uma meta “nada óbvia”, que só é possível com a aposta na criação de desenvolvimento pelo conhecimento, seguindo “o exemplo que a Hovione tem dado nos últimos anos”.

Em 2017, pela primeira vez, o investimento privado em despesa de investigação ultrapassou o investimento público.

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