Carlos Leitão e Tânia Oleiro em maratona fadista na Áustria e na Alemanha

Nascidos em Lisboa mas com o Alentejo no sangue, Carlos Leitão e Tânia Oleiro mostram os seus fados na Áustria e na Alemanha, em doze concertos a partir desta segunda-feira.

Foto
Carlos Leitão e Tânia Oleiro PAULO MARIA/INTERSLIDE E LUÍS CARVALHAL

Nasceram no mesmo ano, 1979, e na mesma cidade, Lisboa, mas têm ambos o Alentejo no sangue. Carlos Leitão é filho de alentejanos e o pai de Tânia Oleiro é também do Alentejo, embora não tenha sido por isso que agora viajam em digressão na Áustria e na Alemanha. Carlos já faz esta viagem pelo oitavo ano consecutivo e, desta vez, resolveu convidar Tânia. Por junto, têm apenas três discos gravados, ele Quarto (2013) e Sala de Estar (2017), ela Terços de Fado (a sua estreia, em 2016). Mas Carlos, que tem já um público austríaco fiel, aproveita esta digressão para testar alguns temas do seu novo disco, a editar este ano.

Conhecem-se há mais de dez anos e Tânia ainda se recorda da primeira vez que o viu: “Foi, ainda o Carlos era jornalista, a entrevistar o Ricardo Ribeiro no Marquês da Sé. Entrou muito altivo.” Na altura, achou-o arrogante e até comentou isso com outra fadista. Ela cantava há pouco tempo, e o Marquês da Sé foi a primeira casa de fados onde actuou como profissional. Ela estava a fazer um artigo sobre fadistas da nova geração e os editores insistiam que ele (porque já cantava o fado) servisse de anfitrião. “Era a Tânia, a Carminho, o Ricardo, sei que acabámos com o Camané (que já era de outra geração) na Mesa de Frades.”

A amizade, antes dos fados

Não se recordam exactamente quando voltaram a encontrar-se, já como fadistas. Mas, quer um quer outro julgam ter sido na Casa de Linhares. “Nós fomos sempre muito mais amigos do que privámos musicalmente”, diz Tânia. “Normalmente sucede o contrário.” “Se calhar por isso é que a relação de amizade se mantém”, riposta Carlos. Partilharam o palco algumas vezes, mas esta digressão no coração da Europa “é a primeira vez a sério.”

Estarão ambos em palco em simultâneo, com os músicos. “Nos anos anteriores, a coisa era muito mais segmentada. A pessoa convidada cantava quatro ou cinco fados, depois cantava eu, depois havia o intervalo (os austríacos têm sempre intervalo) e recomeçávamos. Este ano, também fruto da relação de cumplicidade que ambos temos, decidi imaginar uma coisa mais dinâmica, vamos cantando à ou em dueto.” Carlos toca também viola, enquanto canta. Com eles, estarão Henrique Leitão na guitarra portuguesa e Carlos Menezes no baixo.

O que vão cantar? “Coisas de que gostamos”, diz Tânia. “Vamos cantar o Vendaval do Tony de Matos, por exemplo”, diz Carlos “Cantei-o uma vez na vida e ela nunca o tinha cantado. Depois faremos mais dois duetos, um com um fado que cantamos regularmente, Resposta fácil, do Domingos Gonçalves Costa, do repertório do António Rocha; e depois um que me agrada particularmente, porque é dos temas da Amália de que mais gosto, Que fazes aí Lisboa. A Tânia assume-o e no meio eu faço uma incursão pelo Fado Menor.”

“Uma coisa extraordinária”

Ao todo, serão dez concertos na Áustria e dois na Alemanha em duas semanas, com “um dia de folga” pelo meio. “Tem sido sempre uma coisa extraordinária. Porque o público austríaco é muito especial. Aos dois anos, já começam a ter aulas de esqui e de música; e nós andamos aqui a discutir orçamentos para a Cultura. Há salas novas em relação aos outros anos, mas nas que se mantêm, que é a maioria, há quem vá todos os anos. Recebo mensagens em Julho de pessoas a dizerem-me que já têm o bilhete comprado para Janeiro. É incrível.”

Para Tânia Oleiro, a Áustria e a Alemanha são uma novidade: nunca lá cantou. Nem fez uma digressão com tantos concertos seguidos, apesar de já ter cantado em vários outros países. “Estive em Novembro nos Estados Unidos e fiz cinco concertos seguidos, mas foi o máximo que fiz até hoje. Quando viajo pela Europa são sempre dois ou três concertos, no máximo. Esta é uma estreia que me está a deixar nervosa mas muito expectante, ao mesmo tempo.”

“O nosso promotor na Áustria”, diz Carlos, “esteve a ouvir o disco da Tânia de fio a pavio. E enviou-me uma mensagem, em inglês, onde só dizia: ‘Obrigado por me proporcionares isto na minha vida’. E ‘isto’ era a Tânia. Por isso, não há razão para nervosismos.”

Sugerir correcção
Comentar