É só uma mesinha
Duas da tarde. Vão chegando grupos de quatro pessoas que se lembraram de ir almoçar à praia mas não estiveram para telefonar para marcar mesa. Segue-se este diálogo infernizante.
É sábado. Está um dia lindo – talvez o mais bonito dia de Inverno de sempre. Num restaurante de praia todas as mesas estão reservadas. Uma irritação antiga: porque é que os indicadores dizem sempre "Reservado". Qual é o substantivo masculino que foi reservado? Se é a mesa que foi reservada, porque é que não diz "Reservada"?
Duas da tarde. Vão chegando grupos de quatro pessoas que se lembraram de ir almoçar à praia mas não estiveram para telefonar para marcar mesa.
Segue-se este diálogo infernizante.
Cliente: Quatro. (Sumiu-se até o "somos". "Boa tarde" ou "Olá" nem pensar).
A resposta da Maria João (em surdina): Zero.
A resposta do chefe de sala: Infelizmente não tenho mesa.
Cliente: Não tem uma mesa cá fora?
Chefe: Estão todas reservadas.
Cliente: E lá dentro?
Chefe: Lá dentro também estão todas reservadas.
Cliente: E aquela ali?
Chefe: Está reservada.
Cliente: E aquela ali ao fundo?
Chefe: Também está reservada.
Cliente: Então estão todas reservadas?
Chefe: Foi como lhe disse.
Cliente (zangado): De facto, podia ter dito, podia!
Este teatrinho é evidentemente encenado para benefício dos acompanhantes. Destina-se a legitimar um comentário feito mais tarde no carro do tipo "Aquele empregado comigo não fez farinha!". O sonho é que um dos acompanhantes responda: "Tu topaste-o logo à distância!"
O sub-texto de toda esta negociação, a razão das insistências irracionais, é sempre um portuguesíssimo "vá lá, não seja assim..."
Seria mais curto e sincero pedir "vá lá, arranje-nos lá uma mesinha..."