Diário

Armando Vara, o Novo Banco, a CGD, o e-Toupeira, o pirata informático, o genro de Jerónimo: a vida pública portuguesa transformou-se numa história de polícias e ladrões.

19 de Janeiro

Décima semana dos “coletes” por toda a França, de Rennes a Toulouse. Entretanto, o putativo de Gaulle, Macron, esse patético homenzinho, anda pela paisagem a pedir um “debate nacional”. Exercício vão. Os franceses pagam 49% do PIB em impostos e o Estado gasta 56% do PIB com os franceses. A França está imobilizada na mediocridade e é irreformável. Se o dr. António Costa ficar por cá muito tempo, acontece o mesmo a Portugal. O que, de resto, não nos desviava de uma longa tradição.

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Notícia dos jornais: o “coordenador regional do Porto da secção temática de Relações Exteriores do Conselho Estratégico Nacional... renunciou ao cargo”. Nem sequer me espanta, há muito tempo que sei como é a cabeça do inventor desta maravilha.

20 de Janeiro

Armando Vara, o Novo Banco, a CGD, o e-Toupeira, o pirata informático, o genro de Jerónimo: a vida pública portuguesa transformou-se numa história de polícias e ladrões. Percebo que a alma persecutória que mora em cada um de nós se alegre com estas coisas. O espectáculo não deixa por isso de ser lúgubre – ver jornalistas transformados em peritos de Processo Penal e delatores furando por todo o lado. Chama-se a este género de actividades “combater pela transparência”. O sermão semanal de Ana Gomes é de pôr os cabelos em pé. António Costa não se pode esquecer de a nomear ministra da Polícia no próximo governo.

21 de Janeiro

A frase de Luís Montenegro sobre “acordar o gigante adormecido” adquiriu o estatuto de uma frase “original” e “polémica”. De facto, é uma frase de um almirante japonês (julgo que Yamamoto) sobre Pearl Harbour e o gigante é a América. Ninguém notou. E ninguém sequer se lembrou de um filme popular chamado Tora! Tora! Tora!. Este país é um mar de ignorância.

22 de Janeiro

Merkel e Macron assinaram um tratado para fortalecer a defesa da UE. Os senhores da UE estão contra a Inglaterra. Mas falam inglês para se entender entre si. É a vida. Também o hipotético exército da Europa só pode ser alemão; e ninguém, se tiver dinheiro, compra um carro francês.

23 de Janeiro

Um belo dia, o coronel Hugo Chávez descobriu a maneira de governar a Venezuela. Era simples: com o dinheiro do petróleo, comprava generais e, a seguir, comprava “igualdade” para o lumpen proletariado dos bairros suburbanos de Caracas e de mais três ou quatro cidades. Chamava-se a esta originalidade “revolução bolivariana” e durou enquanto durou o petróleo caro. Quando o preço do petróleo desceu, já com Chávez moribundo, veio Maduro e, com ele, a doença e a fome.

A esquerda portuguesa, e a europeia, gostaram muito do “chavismo”. Não foi só Sócrates, foram também os ministros do seu governo e a torpe “inteligência” cosmopolita. Estavam habituados a gostar de ditaduras e mentiras. Agora mesmo, perante o levantamento popular, a Europa ainda se refugia em argumentos constitucionais para aconselhar uma transição pacífica. De Trump a Marcelo e aos comentadores da televisão não há quem não peça paz. Naquele mundo de violência não há paz possível. Estas piedades só servem para entreter as consciências e não mexer um dedo.

De qualquer maneira, excepto em Portugal, por causa dos portugueses que vivem na Venezuela e daqueles que fugiram para cá, ninguém deu grande atenção ao assunto. A CNN estava ocupada com o shutdown. E a BBC e a Euronews não acharam a coisa particularmente interessante: não leram com certeza os lancinantes artigos deste jornal, reconhecendo à contre-coeur que a Venezuela de Maduro não era propriamente um exemplo de perfeição democrática.

Verdade que a Venezuela, com a sua extraordinária bandeira, a sua orquestra (“bolivariana”, claro) e os caracóis do seu Dudamel, não é propriamente uma nação, nem o Estado venezuelano é propriamente um Estado. Basta ver o uniforme dos generais que vieram dar o seu apoio ao regime e uma pessoa sente-se logo transportada para uma história do Tintim. Maduro, ainda por cima, tem qualquer coisa de general Alcazar.

25 de Janeiro

Gostei imenso de ver os cozinheiros da Galiza no congresso do Porto. Em 2003, quando estava doente no Hospital Amadora-Sintra, um enfermeiro galego dizia-me sempre, para me espevitar, que havia uma auto-estrada contínua do IC19 ao melhor restaurante de Vigo. E que íamos lá os dois comer peixe e mariscos.

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