Dia de vidro novo

A persistência das moscas é um dos mistérios mais deprimentes da vida.

A persistência das moscas é um dos mistérios mais deprimentes da vida. Tenho aperfeiçoado o método de matá-las quando se deitam nos vidros das janelas para secar o nojo nas patinhas.

Estico um pano do pó e pumba! É a minha caça. Sim, conheço a satisfação de ver a mosca explodir em sangue. Infelizmente é raro.

As moscas vingam-se entusiasmando-me. Querem que eu parta um vidro. E parto. Aí então é que as moscas fazem o que querem, entrando e saindo com sobranceria.

Posso fechar os batentes mas é triste trabalhar sem ser à luz do dia e da noite. Quando é assim as moscas vão passear para o tecto. Atiro livros maus e pesados para tentar matá-las. Hei-de lá chegar - ainda não estabeleci qual é o melhor formato - mas tem sido um fracasso.

Quando vêm pôr um vidro novo a janela fica aberta enquanto trabalham e as moscas, claro está, aproveitam para entrar...

Segue-se então um estranho período em que o escritório está cheio de moscas (bastam duas) mas eu não as posso matar porque tenho medo de partir outro vidro. Estarão a fazer troça de mim?

Ainda está para vir aquela extática semana de Inverno em que as moscas desaparecem, desmotivadas pela chuva. Ao apresentar as previsões de mau tempo o IPMA bem que podia dourar a pílula com consolações: "Este fim-de-semana não haverá moscas na Região Centro".

Ainda pensei em arranjar um camaleão mas depois afeiçoava-me a ele e eis-me escravizado a ter de apanhar moscas para o bicho. Vivas, ainda por cima. Não há pior destino que dar segundas oportunidades a moscas.

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