Hospital do Funchal mantém serviços isolados devido a "superbactéria"

É a primeira vez que há registo no Serviço de Saúde da Madeira da presença da estirpe da bactéria Klebsiella que é resistente a antibióticos de fim de linha.

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neg nelson garrido

O Hospital Central do Funchal vai manter em quarentena, até à próxima semana, as enfermarias onde foi identificada uma bactéria que é resistente a antibióticos, enquanto procede ao rastreio de 58 doentes ali internados, indicou esta sexta-feira a autoridade regional de saúde. Foi a primeira vez que uma bactéria deste estirpe que é multiresistente a antibióticos foi registada pelo Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira. 

"Não há motivo neste momento para alarmismos, é apenas um caso e é por uma questão de precaução que devemos rastrear todos os contactos", disse a coordenadora do serviço de controlo de infecção, Margarida Câmara, em conferência de imprensa.

A bactéria em causa é a Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC). É resistente a carbapenemes (antibióticos de fim de linha usados exclusivamente nos hospitais para tratar infecções graves), já é designada como superbactéria e pode provocar infecções urinárias, respiratórias e da corrente sanguínea. Saltou para a ribalta em Portugal depois de vários surtos hospitalares se terem sucedido em 2015 e 2016, provocando mortes e obrigando os hospitais a reverem as suas práticas e a colocarem doentes em isolamento.

Dois destes surtos, um no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e outro no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, afectaram dezenas de doentes e foram fatais para seis, três pacientes em cada unidade hospitalar.

Agora, chegou à Madeira. Margarida Câmara explicou que as medidas de isolamento serão mantidas enquanto decorrem os rastreios aos 58 doentes que estiveram em contacto com a portadora da bactéria, o que implica a realização de três exames no período de 48 horas​. "Portanto, vai levar algum tempo até termos a situação finalizada", sublinhou, vincando que a quarentena apenas será suspensa para os doentes com resultado negativo nos três exames.

A paciente portadora da bactéria esteve internada nos serviços de Ortopedia e de Nefrologia, nos pisos 8º e 6º, que agora se encontram isolados, e tem historial de internamento prolongado em diferentes unidades hospitalares fora da Região Autónoma da Madeira devido a patologia crónica imunodeprimida. No último ano, esteve internada numa unidade na zona de Lisboa e actualmente permanece hospitalizada no Funchal, em estado considerado estável.

Margarida Câmara explicou que a Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase se transmite apenas através do contacto directo com a pessoa infectada ou com material contaminado, o que justifica o rastreio aos 58 doentes internados nos serviços de Ortopedia e de Nefrologia.

"Temos suspeita [de possível infecção], mas nenhum apresenta qualquer sintoma para já", disse, esclarecendo que a bactéria pode infectar qualquer órgão do sistema, provocando infecções respiratórias, urinárias, de pele e outras.

As visitas estão agora limitadas a uma pessoa por doente, com um período de permanência máximo de 30 minutos, devendo esta utilizar o mesmo equipamento de protecção pessoal que os profissionais de saúde, como bata e luvas. "Qualquer bactéria que tenha este perfil de resistência pode ser mortal por podermos não ter o antibiótico capaz de tratar a infecção", advertiu.

A presidente do Serviço de Saúde da Madeira (SESARAM), Tomásia Alves, informou, por outro lado, que todos os familiares dos doentes foram contactados, no sentido de "sossegá-los". "Não há qualquer sinal de grande preocupação, o que existe sim é uma atitude preventiva de rastrear todas as pessoas que estiveram em contacto para as isolar", afirmou.

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