Um circo, um jardim de palmeiras e uma primeira fila em lágrimas. Assim foi a semana de alta-costura, em Paris

De segunda a quinta-feira, apresentaram na semana de alta-costura de Paris marcas como Chanel, Givenchy e Valentino.

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Nem sempre a semana de moda de alta-costura suscita tanta atenção quanto aquela que passou — que teve tudo, desde circo a uma primeira fila em lágrimas, passando por um jardim de palmeiras em pleno Inverno. Foram quatro dias de desfiles, de segunda a quinta-feira, que juntaram algumas das poucas dezenas de maisons certificadas pela Fédération Française de la Couture para apresentar alta-costura, como a Chanel, Givenchy e Valentino. 

“Para mim, couture tem a ver com sonhos e fantasia e a expressão de individualidade”, afirmou Pierpaolo Piccioli nos bastidores do desfile Valentino, citado pelo New York Times. Acrescentou ainda: “Isso significa diversidade. Não tem a ver com a mensagem política que pões numa T-shirt e não tem a ver com streetwear ou sportswear. Tem a ver com a forma como olhamos para o mundo.”

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“E se as fotografias de Cecil Beaton [de 1948] daqueles vestidos Charles James fossem com mulheres negras?”, atirou o criador, desta vez citado pela Vogue, ao mesmo tempo que apontava para o seu quadro de inspiração, que incluía também virgens negras e imagens das revistas Ebony e Jet. Do grupo de 65 modelos, 45 eram negras, incluindo Naomi Campbell.

A verdade é que o desfile deixou alguns dos convidados — incluindo Céline Dion — em lágrimas. Talvez, a canção de Roberta Flack ("The First Time I Ever Saw You") tenha ajudado, mas, independentemente disso, o desfile foi um dos mais bem recebidos da semana. “É muito raro ver uma colecção que evoca tanta emoção no público — mas esta foi uma daquelas ocasiões que nos juntou a todos, tendo em conta que somos muito sortudos por poder testemunhar tanta criatividade”, comentou Justine Picardie, editora da Harper's Bazaar, no Instagram.

Por falar na rede social, um dos momentos mais dignos de publicação foi o desfile Viktor & Rolf. Os criadores reuniram slogans daqueles que estamos habituados a ver em T-shirts e canecas (ou nas redes sociais) e imprimiram-nos em vestidos de folhos, feitos com vários quilómetros de tule. “Get mean” (torna-te desagradável), “I am my own muse” (Sou a minha própria musa) e “No” (não), lia-se em letras garrafais nas delicadas peças em tons pastéis. 

No espectro oposto esteve Maria Grazia Chiuri, a mesma criadora que há dois anos levou para a passerelle T-shirts com o título do livro de Chimamanda Ngozi Adichie (We Should All be Feminists) carimbado. Desta vez, o feminismo da directora criativa da Dior mostrava-se de forma mais subtil, no espectáculo circense que montou em Paris. Antes das modelos, saíram as acrobatas, em preto e branco: mulheres a apoiarem-se, literalmente, noutras mulheres. 

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O tom de Clare Waight Keller — que apresenta o terceiro desfile de couture como directora criativa da Givenchy — foi mais de provocação. Em contraste com as peças inspiradas na estrutura do smoking, vestiu as modelos de leggings de látex. Para isso, recrutou a ajuda da especialista responsável pelo guarda-roupa de Beyoncé em digressão, Atsuko Kudo. “Foi o mesmo estilo moderno e estruturado pelo qual começa a ser conhecida, mas com toques femininos, como laços gigantes, renda e flores a enfeitar”, escreve a Harper's Bazaar.

Balmain regressa à passerelle

Há cerca de uma década e meia que a Balmain não apresentava uma colecção de alta-costura. Olivier Rousteing, o director criativo que acompanha a marca desde 2011 — transformando-a numa das mais fortes a nível internacional, adorada por celebridades como Kim Kardashian e Beyoncé —, decidiu voltar a fazê-lo.

Debruçou-se então sobre os arquivos da marca e apresentou uma colecção com toques futuristas — incluindo formas orgânicas e caras pintadas de branco, num estilo alusivo ao espaço. “A maison [Balmain] é conhecida por ser arrojada, sexy e glamorosa”, comentou o criador em declarações à revista Vogue, acrescentando que a colecção serve como forma de “fazer regressar a Balmain à elegância da França”.

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Com a neve a cair nas ruas de Paris, Lagerfeld desafiou o tempo e instalou no Grand Palais um jardim verdejante com palmeiras, roseirais e uma piscina. Já o criador, viajou no tempo até ao século XVIII, para ir buscar inspiração, mais concretamente, debruçou-se sobre as exposições que mostravam aquilo que os comerciantes da época traziam para a classe alta, desde tiras de seda a mobiliário luxuoso.

O desfile ficou também marcado pela ausência do director criativo de 85 anos, que estava a sentir-se cansado, segundo um comunicado emitido pela marca. A agradecer, no final, esteve Virginie Viard, directora do estúdio criativo da maison.

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