Uma economia verde, circular e descarbonizada

A revolução verde tem que chegar a todos, mesmo aos que ainda negam as alterações climáticas.

É cada vez mais evidente a insustentabilidade de um modelo de desenvolvimento que persiste no equívoco de que é possível continuar a explorar recursos sem ter em conta a sua finitude, comprometendo o futuro e fechando os olhos a uma crescente e inaceitável desigualdade. A consciência dos limites e a percepção de que vivemos um momento ambiental e social crítico já não expressa uma utopia ou a desproporcionada teimosia de alguns que não confiam na capacidade do Homem para encontrar as soluções que se desejam por parte da ciência e da tecnologia.

Basta atentarmos aos cenários e aos números de forma objectiva: a população global do planeta é atualmente de cerca de 7,6 mil milhões e, de acordo com a expectativa de evolução demográfica, na próxima década atingiremos os 8,6 mil milhões, ou seja, em 2030 seremos mais mil milhões de habitantes a utilizar espaço e recursos; seremos muitos mais a conduzir automóveis, a viajar de avião, a exigir mais alimento, a construir mais casas, e a beber água. Se todos adotarem hábitos de consumo per capita semelhantes aos dos americanos ou dos europeus de hoje, a delapidação de recursos e a degradação do planeta é inexorável, com ou sem alterações climáticas. Quando esta percepção se torna cada vez mais clara e universal, compreendemos que o caminho tem de ser distinto, tornando inadiável uma agenda verde, em que a energia limpa, os automóveis não poluentes, a utilização eficiente de água e de energia, determinam o próprio futuro das próximas indústrias globais.

O mundo exige mudança e requer mais ecologia na base da mudança. Somos hoje interpelados a encontrar respostas para vários problemas, reconhecendo os limites que o planeta nos impõe. Somos desafiados a encontrar soluções para tornar os ecossistemas mais resilientes, a minimizar as ameaças sobre o planeta e a combater a dramática extinção de espécies. 
Somos encorajados a promover uma cidadania ecológica e o compromisso em relação ao planeta e ao bem-estar global dos seus habitantes. As políticas públicas não podem ignorar esta dimensão e reduzir a sua ação ao “rótulo verde”, passando assim ao lado dos desafios humanitários, de educação, de saúde, e da relação entre povos e culturas.

É o momento para implementar uma economia verde, circular e descarbonizada. O desafio é exigente, mas é o único caminho racional e responsável, comprometendo numa agenda nacional comum e ambiciosa: políticas territoriais integradas para responder às alterações climáticas e planear a resiliência dos territórios; o apoio programático e realista à eficiência energética de edifícios e iluminação pública; um planeamento inteligente da mobilidade verde no território, ao serviço das pessoas; a reabilitação do centro das pequenas cidades e vilas, associando transportes públicos de qualidade e preferencialmente gratuitos; o incentivo ao transporte ferroviário entre cidades, garantindo ligações IC em todas as capitais de distrito; mais ecologia nos processos de produção industrial e agrícola, sendo certo que a revolução verde impulsionará a inovação e fomentará a criação de novas indústrias; a implementação séria do princípio do poluidor-pagador, tributando a poluição e financiando assim o apoio social para a transição ecológica; o apoio a uma alimentação ecologicamente responsável, com menor consumo de energia e de recursos.

A revolução verde tem que chegar a todos, mesmo aos que ainda negam as alterações climáticas. Portugal deve assumir esta agenda de desenvolvimento, em todas as frentes, conciliando as dinâmicas de uma economia verde com as políticas sociais de promoção da igualdade e da equidade no acesso aos bens essenciais. Devemos ambicionar 100% energia renovável num horizonte curto, no mesmo plano em que lutamos pela justa oportunidade de emprego e pelo acesso universal e gratuito a uma saúde com qualidade. Uma agenda verde que informa de modo confluente a aposta numa economia apoiada no conhecimento e na inovação, promovendo emprego, educação, equidade social e qualidade de vida. Não há desenvolvimento económico e social nem combate eficaz às desigualdades enquanto o sistema político dominante não integrar a matriz e o pensamento ecológico, contaminando o léxico da política: o rigor pela eficiência, o conflito pela cooperação, o esforço individual pela partilha, fazendo do bem comum um propósito colectivo.

A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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