Deputado crítico de Bolsonaro, Jean Wyllys renuncia ao cargo e deixa o Brasil sob ameaça de morte

Família Bolsonaro festejou nas redes sociais a demissão e exílio do deputado brasileiro.

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Jean Wyllys recebia protecção policial GABRIELA KOROSSY/camara de deputados

O deputado federal brasileiro Jean Wyllys anunciou, esta quinta-feira, que não cumprirá o terceiro mandato para o qual foi eleito. Para além de abandonar a vida política, o parlamentar deixará também o Brasil. Em causa estão as crescentes ameaças de morte que diz ter recebido ao longo dos últimos meses. Wyllys, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), estava na Câmara dos Deputados desde 2010 e, desde o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, recebia protecção policial constante.

Assumidamente gay, Wyllys é um dos mais vocais críticos da agenda política do Presidente brasileiro Jair Bolsonaro, o que lhe tem valido ser alvo de sucessivas campanhas de difamação e de fake news (notícias falsas). Num dos casos foi acusado pelo também deputado Alexandre Frota, próximo de Bolsonaro, de fazer apologia da pedofilia. Acabou por levar Frota a tribunal e vê-lo ser condenado por difamação.

"Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores. Fizemos muito pelo bem comum. E faremos muito mais quando chegar o novo tempo, não importa que façamos por outros meios! Obrigado a todas e todos vocês, de todo coração. Axé!", escreveu o deputado federal no Facebook. No Twitter, Wyllys publicou um vídeo, no qual mostra uma compilação de algumas ameaças que recebeu ao longo dos últimos meses, a maioria das quais motivadas pela sua orientação sexual. 

O abandono do deputado federal foi celebrado por Carlos Bolsonaro, filho do Presidente do Brasil que, no Twitter, decidiu provocar os adversários. “Vá com Deus!”, podia ler-se na publicação. O próprio Jair Bolsonaro pareceu mostrar satisfação com a notícia, afirmando que esta quinta-feira é um “grande dia”. Bolsonaro, porém, nega qualquer ligação entre a frase e a demissão do deputado federal. 

Wyllys será substituído por David Miranda que, nas redes sociais, alertou o presidente do Brasil afirmando que, tal como Jean, é “um LGBT” que “em dois anos aprovou mais projectos [que Bolsonaro] em 28”. David é marido do jornalista Glenn Greenwald, e fez parte da equipa que investigou as denúncias do antigo espião norte-americano da NSA Edward Snowden, que expôs um programa global de vigilância que o Governo norte-americano mantinha oculto

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