Presidente do Zimbabwe ordena investigação a denúncias de tortura

Emmerson Mnangagwa encurtou uma visita ao Fórum Económico Mundial, na Suíça, para responder aos protestos da última semana provocados por um aumento de 150 por cento nos preços dos combustíveis.

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A oposição denuncia detenções em massa e espancamentos Reuters/Philimon Bulawayo

O Presidente do Zimbabwe, Emmerson Mnangagwa, prometeu nesta terça-feira investigar a violência contra civis que se juntaram aos protestos contra os aumentos dos preços dos combustíveis, depois de a comissão de direitos humanos do país ter denunciado a prática sistemática de tortura.

A polícia diz que três pessoas morreram durante os protestos violentos da semana passada, mas as organizações de defesa dos direitos humanos dizem ter provas de que foram mortas, pelo menos, 12 pessoas.

Estas acusações traduzem um receio de que o Zimbabwe está a resvalar novamente para um regime autoritário sob as ordens de Mnangagwa, depois da saída de Robert Mugabe.

A Comissão de Direitos Humanos do Zimbabwe disse nesta terça-feira que as forças de segurança instigaram tortura sistemática contra manifestantes após os protestos da semana passada contra o aumento dos preços dos combustíveis.

A força usada contra os que morreram ou ficaram feridos, confirmada por relatórios médicos, é um indicador da brutalidade da resposta da polícia, disse a comissão de direitos humanos.

O Presidente Emmerson Mnangagwa regressou a Harare na noite de segunda-feira, cancelando a participação no Fórum Económico Mundial em Davos, na Suíça, por causa da instabilidade no Zimbabwe. Nesta terça-feira, disse que a “violência praticada pelas forças de segurança é inaceitável e uma traição ao novo Zimbabwe”.

“Haverá uma investigação. Se for preciso, vão rolar cabeças”, disse Mnangagwa no Twitter, apelando a um “diálogo nacional” que inclua as igrejas, a sociedade civil e a oposição.

A instabilidade levou Mnangagwa a cancelar a participação no fórum em Davos, onde deveria tentar convencer investidores internacionais a apostarem no Zimbabwe.

Centenas de civis, incluindo o pastor Evan Mawarire e deputados da oposição, foram detidos nos últimos dias na sequências das manifestações, motivadas por um aumento de 150% nos preços dos combustíveis decretado pelo Presidente.

Nesta terça-feira, Mnangagwa voltou a dizer que esse aumento é necessário.
Para além das detenções, vários políticos e activistas dos direitos humanos estão fugidos das autoridades com receio de serem presos. A comissão de direitos humanos diz que as forças de segurança têm feito rusgas a casas, uma acusação que é negada pelas autoridades.

Mas os advogados da comissão de direitos humanos dizem que a polícia deteve 28 homens na segunda-feira, quando estavam a receber tratamentos depois de terem sido espancados por soldados.

Um porta-voz de Mnangagwa disse no domingo que a recente onda de repressão é uma antevisão de como as autoridades vão lidar com tumultos no futuro. Esta declaração, que se soma a um “blackout” na Internet, alimenta os receios de que o país está a resvalar novamente para uma era autoritária.

Jacob Mafume, um porta-voz do partido da oposição Movimento para a Mudança Democrática, disse que é urgente iniciar o diálogo.

“A detenção de dirigentes sindicais e de membros da oposição é um filme já visto em África. Apelamos ao diálogo até que nos falte a voz, mas estamos a ser ignorados”, disse Mafume.

Com uma elevada inflação e a falta de dinheiro em circulação a degradar ainda mais os recursos dos cidadãos, a fragilidade da economia é o principal problema político no Zimbabwe.

Nesta terça-feira expira uma notificação de 14 dias para uma greve no sector público, e até amanhã os sindicatos do país vão decidir os seus próximos passos.

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