Governo italiano acusa França de colonizar África e criar refugiados

Vice-primeiro-ministro de Itália disse que a União Europeia devia "impor sanções" a França por "empobrecer os países africanos" e "contribuir para a fuga de refugiados".

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As declarações de Di Maio foram consideradas "hostis" LUSA/Riccardo Antimiani

A tensão entre os governos de França e de Itália por causa das políticas de imigração subiu mais um degrau nos últimos dias, depois de o vice-primeiro-ministro italiano, Luigi Di Maio, ter acusado Paris de continuar a colonizar África e contribuir para a imigração em grandes números para a Europa. Em resposta, o governo francês convocou a embaixadora italiana e disse que as declarações de Di Maio são "hostis".

"Não é a primeira vez que as autoridades italianas fazem comentários inaceitáveis e agressivos", disse à agência Reuters um diplomata francês citado sob anonimato.

A troca de acusações entre os dois países atingiu outro ponto alto no Verão do ano passado, quando o Governo italiano convocou o embaixador francês depois de o Presidente Emmanuel Macron ter acusado Roma de "cinismo e irresponsabilidade" por recusar a entrada nos seus portos do navio "Aquarius", com 629 pessoas a bordo.

Desta vez, o incidente diplomático foi motivado por declarações do vice-primeiro-italiano Luigi Di Maio, do partido 5 Estrelas, que se apresenta ao eleitorado como "anti-sistema" e é parceiro de coligação da Liga, da extrema-direita.

"Se temos pessoas a sair de África, é porque alguns países europeus, e a França em particular, nunca deixaram de colonizar África", disse Di Maio num discurso no fim-de-semana em Itália.

"Se a França não tivesse as suas colónias africanas – porque é assim que elas deviam ser chamadas –, seria a 15.ª maior economia. Em vez disso, está entre as primeiras, precisamente por causa do que está a fazer em África", continuou o governante italiano.

No mesmo discurso, Di Maio disse que a União Europeia devia "impor sanções aos países como a França, que estão a empobrecer os países africanos e a causar a fuga daquelas pessoas".

Na segunda-feira à tarde, a chefe de gabinete do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês, Nathalie Loiseau, convocou a embaixadora italiana em Paris, Teresa Castaldo – uma medida diplomática que serve para sinalizar publicamente o desagrado de um país.

Mas o vice-primeiro-ministro italiano não recuou nas suas declarações, e na segunda-feira voltou a acusar Paris de manipular as economias de 14 países africanos através do franco CFA – uma moeda usada em 12 antigas colónias francesas em África, na Guiné-Bissau e na Guiné Equatorial, e que é vista por uns como um factor de equilíbrio na região e por outros como um travão ao seu desenvolvimento económico.

"A França é um desses países que, ao imprimir dinheiro para 14 Estados africanos, evita o seu desenvolvimento económico e contribui para a fuga de refugiados, que depois morrem no mar ou chegam às nossas costas", disse Luigi Di Maio na segunda-feira, citado pela agência Reuters.

Segundo a agência italiana Ansa, as declarações de Di Maio foram descritas em Paris como "hostis e sem justificação à luz da parceria entre França e Itália na União Europeia".

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