Londres quer ter uma nova casa da música, para repetir o efeito Tate Modern

Projecto é do estúdio de arquitectura norte-americana Diller Scofidio + Renfro e está orçado em perto de 326 milhões de euros, que serão obtidos através de doações e investimentos privados.

Fotogaleria
Projecto da nova Casa da Música de Londres Diller Scofidio + Renfro
Fotogaleria
Projecto da nova Casa da Música de Londres Diller Scofidio + Renfro
Fotogaleria
Projecto da nova Casa da Música de Londres Diller Scofidio + Renfro
Fotogaleria
Arquitecta Elizabeth Diller, em Lisboa, em Fevereiro de 2018 Sebastião Almeida

Não há ainda data para o início da construção, que deverá demorar quatro anos, mas há já um orçamento estimado em 288 milhões de libras (perto de 326 milhões de euros), e a promessa de que tal montante provenha exclusivamente de doações e investimento privado. É este o programa da nova casa da música de Londres – o London Centre for Music –, cujo projecto, assinado pelo atelier norte-americano Diller Scofidio + Renfro, fundado em Nova Iorque em 1981, foi publicamente apresentado na capital inglesa esta segunda-feira.

A nova sala de concertos, que será a sede da London Symphony Orchestra (LSO), dirigida por Sir Simon Rattle, vai ser construída a sul do Barbican Center, em plena City, enriquecendo o eixo norte-sul de equipamentos culturais da capital britânica e ligando aquele centro à Tate Modern e às outras estruturas culturais da margem esquerda do Tamisa, como o National Theatre.

O edifício terá um auditório principal de 2000 lugares. A plateia rodeará o palco, o que promete condições acústicas perfeitas para a fruição dos concertos da LSO e de muitas outras formações e géneros musicais que ali terão espaços privilegiados – como um auditório no topo do edifício com vista privilegiada sobre a Catedral de São Paulo, para concertos de jazz e performances diversas. Estão também previstos quatro pisos de lojas e espaços comerciais, entre os quais cafés e um restaurante.

Os responsáveis do organismo municipal City London Corporation, que gere o empreendimento, afirmaram que ele não irá obrigar ao investimento de dinheiros públicos, reagindo assim, por antecipação, às previsíveis críticas sobre o seu custo. “Estamos a trabalhar com um número grande de potenciais financiadores”, disse, na segunda-feira, a directora-geral da LSO, Kathryn McDowell, citada pelo jornal The Guardian. “Estamos ainda a dar os primeiros passos, mas a fazer bons progressos”, acrescentou.

Também presente na apresentação, Simon Rattle fez igualmente questão de responder aos críticos: “Nunca é o tempo certo para fazer algo de novo”, disse o prestigiado maestro, que é o rosto mais mediático do projecto. E reafirmou que a nova sala de concertos será feita sem o recurso ao orçamento público: “Isto é uma coisa que estamos a tentar fazer por nós próprios, estamos a tentar marcar a diferença.”

Repetir o efeito Tate Modern

Para realçar a razoabilidade das verbas apontadas, o director-geral do Barbican Center, Sir Nicholas Kenyon, lembrou os custos da Elbphilharmonie, em Hamburgo (um projecto da dupla suíça Herzog & de Meuron), inaugurada há dois anos, que derrapou de um orçamento inicial estimado em 450 milhões de euros para quase o dobro (866 milhões, a maior parte dos quais investimento público); e da Cité de la Musique, em Paris (do arquitecto Jean Nouvel), que custou 390 milhões, o triplo do previsto. 

(E poderíamos acrescentar aqui o exemplo da Cada da Música, no Porto, projecto do holandês Rem Koolhaas, cujo custo final de 111 milhões também praticamente triplicou o montante inicialmente previsto.)

Nicholas Kenyon lembrou, apesar disso, o sucesso dos dois projectos citados e as repercussões positivas que ambos tiveram na animação cultural, turística e económica das respectivas cidades. “A sala de Hamburgo tornou-se um novo símbolo da cidade, como o [Walt] Disney Hall [de Frank Gehry] o foi para Los Angeles”, salientou o director do Barbican, sublinhando ainda “o que a Tate Modern significou, no início do milénio, para o crescimento da atenção às artes plásticas”. [Com a nova sala de concertos], “nós podemos fazer o mesmo para a música no século XXI”, acredita Nicholas Kenyon.

Um fosso no meio da cidade

Elizabeth Diller, uma das associadas do atelier Diller Scofidio + Renfro e a arquitecta do High Line nova-iorquino, reconversão de uma linha de caminho-de-ferro desactivada numa muito concorrida promenade cultural, explicou na capital britânica a configuração do projecto para o London Centre for Music e o modo como ele se implantará no tecido da cidade.

Sobre a sala de concertos, adiantou que será construída em madeira e que foi inspirada nas camadas estratificadas das formações geológicas – uma configuração que proporciona condições ideais de visibilidade e audição.

Já sobre a localização, admitiu que a proximidade de uma rotunda viária –​ “quase um fosso”, classificou – não é a mais digna para a construção de um edifício desta natureza. Mas assegurou que o novo projecto irá alterar radicalmente o lugar, assegurando uma nova entrada virada a sul, “transparente e porosa”, para o Barbican Center.

O novo edifício vai ser construído no lugar até agora ocupado pelo Museu de Londres, que entretanto está a ser deslocalizado para perto do mercado de Smithfield, segundo um projecto assinado pelo atelier Stanton Williams + Asif Khan (responsáveis também pela ampliação da Royal Opera House, em Londres).

O atelier Diller Scofidio + Renfro conquistou o direito a desenhar a nova casa da música de Londres ao vencer, em 2017, o concurso internacional em que participaram outros vultos da arquitectura mundial, como Frank Gehry, Norman Foster, Amanda Levete (a arquitecta do MAAT, em Lisboa) ou Renzo Piano. Mas a nova sala de concertos não é a única obra que o escritório nova-iorquino tem em curso na capital britânica – em Maio do ano passado, venceu também o concurso para a construção de um novo edifício no Parque Olímpico de Londres, na zona este da cidade, para receber parte da colecção do Victoria & Albert Museum.

Para a nova casa da música, é preciso agora angariar os fundos que permitam lançar a sua construção, sendo que a City London Corporation anunciou já a atribuição de 2,5 milhões de libras (mais de 2,8 milhões de euros) para o lançamento das infra-estruturas da obra.

Notícia corrigida: o autor do projecto do London Centre for Music é o atelier Diller Scofidio + Renfro e não apenas Elizabeth Diller; e o custo final da Casa da Música foi de 111 milhões de euros, segundo os dados de uma auditoria realizada em 2008 pelo Tribunal de Contas, e não 230 milhões de euros, como, por erro, referimos.

Sugerir correcção
Comentar