Cerca de 200 portugueses e espanhóis manifestam-se na fronteira contra exploração de urânio

A concentração juntou cerca de 200 pessoas na barragem de Saucelle. Manifestantes construíram um cordão humano e gritaram palavras de protesto.

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Joana Goncalves

Cerca de duas centenas de portugueses e espanhóis manifestaram-se este sábado na fronteira de Saucelle, a seis quilómetros de Freixo Espada à Cinta, para protestar contra a abertura de uma mina de urânio na província espanhola de Salamanca.

Os manifestantes construíram um cordão humano e gritaram palavras de protesto contra a abertura de uma mina de urânio nas proximidades da localidade espanhola de Retortillo-Santidad, na província de Salamanca.

Nuno Sequeira, da Quercus, disse que espanhóis e portugueses estão unidos contra a instalação de uma mina de urânio a céu aberto, em território transfronteiriço, e a prova foi a presença nesta manifestação de 200 pessoas de ambos os lados da fronteira.

"Achamos que estes projectos de exploração de urânio a céu aberto não são o futuro para esta região, são iniciativas que têm muitos impactos no meio ambiente, a começar pela contaminação dos recursos hídricos que poderão chegar ao rio Douro. E são também projectos que terão impactos negativos na biodiversidade e na saúde pública", indicou.

O ambientalista Nuno Sequeira, da Quercus, referiu que, a abrir, essa mina projectada para a localidade de Retortillo teria "impactos muito grandes" no meio ambiente e na saúde humana. "É material radioactivo explorado a céu aberto com possibilidade de conter poeiras atmosféricas que seriam transportadas certamente para território português e seriam libertadas para o meio hídrico e chegariam ao rio Douro", alertou.

A Quercus, a Associação Ambiente em Zonas Uraníferas e a plataforma Stop Urânio de Salamanca reconhecem que há sinais de obstáculos à abertura da mina, o mais recente dos quais colocado pelo município de Retortillo, que recusou dar à mineira Berkeley licença urbanística para as obras do projecto, que inclui a mina e uma fábrica de processamento de urânio.

Nuno Sequeira apontou que a contestação acontece dos dois lados da fronteira e defendeu que o executivo português precisa de ter "uma acção mais incisiva e colocar mais pressão no Governo espanhol para que não avance com estes projectos e os cancele de uma vez por todas".

Se avançarem, estas minas serão "as únicas a céu aberto na Europa", afirmou o ambientalista, considerando que seriam uma aposta sem sentido nenhum do ponto de vista económico, social" e até do turismo, com um balneário termal a funcionar em Retortillo.

Por seu lado, José Ramón Barrueco, da plataforma espanhola Stop Urânio, referiu que há problemas de convivências entre as populações vizinhas do local da mina, já que uns defendem o empreendimento e outros não.

"A maioria das pessoas está contra a instalação da mina. Contudo, há outros estão favor, já que foram iludidos com a criação de posto de trabalho, já que a empresa manipulou as pessoas com a possibilidade de que sirvam de escudo contra os que não querem o empreendimento no território", disse o ambientalista espanhol.
Os ambientalistas espanhóis acreditam que "há bons indicadores" que permitem parar os projectos mineiros de prospecção de urânio a céu aberto.

A presidente da Câmara de Freixo de Espada à Cinta, Maria do Céu Quintas, também marcou presença na manifestação e disse à Lusa que nunca foi contactada oficialmente sobre esta problemática. "O que vou sabendo é pela comunicação social e pelos movimentos ambientalistas", vincou.

Em Outubro passado, o executivo de Madrid anunciou o abandono de outro projecto da Berkeley na província de Salamanca, afirmando que a empresa não apresentou documentos que eram necessários.

O projecto "Salamanca", da empresa Barkeley, previa um investimento total de 250 milhões de euros, a criação de 450 postos de trabalho directos e 2000 indirectos.

O parlamento nacional aprovou em Março de 2018 um conjunto de resoluções para recomendar ao Governo português a adopção de medidas junto do executivo espanhol para suspender a exploração de urânio em Salamanca.

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