Milhares de pessoas no funeral do autarca de Gdansk assassinado

Pawel Adamowicz foi esfaqueado no domingo durante um acto público. Num clima de radicalização política crescente na Polónia, milhares de pessoas encheram as ruas para se despedir do dirigente liberal, com bandeiras e velas.

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Havia tantas pessoas que foram montados écrãs exteriores na catedral, para as pessoas assistirem à cerimónia na rua AKUB KACZMARCZYK/EPA
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Na Basílica de Santa Maria, em Gdansk,Na Basílica de Santa Maria, em Gdansk ADAM WARZAWA/EPA,ADAM WARZAWA/EPA

Pelo menos 45 mil pessoas juntaram-se, este sábado, na cidade de Gdansk, para participar no funeral de Pawel Adamowicz. O caixão do autarca de 53 anos, que se destacava pelas posições liberais, num país com um Governo profundamente conservador e anti-imigração, foi esfaqueado no fim-de-semana passado e morreu em consequência dos seus ferimentos. Foi levado em marcha lenta até à Basílica de Santa Maria, onde se realizou a cerimónia fúnebre.

Apesar das temperaturas negativas, muitos levaram bandeiras polacas e velas, numa última despedida a Adamowicz, ​que nas últimas duas décadas foi presidente do município que viu nascer o movimento Solidariedade, ainda antes da queda do Muro de Berlim.

Na igreja, várias figuras políticas marcam presença no funeral. Incluindo Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, ex-primeiro-ministro polaco e ex-líder da Plataforma Cívica – o partido pelo qual o autarca dirigia a cidade de Gdansk desde 1998 –, que veio de Bruxelas para assistir à cerimónia fúnebre. "Pawel, nunca te esqueceremos. Adeus, meu amigo", tinha partilhado, no Twitter, após saber do falecimento do liberal.

O presidente da câmara foi esfaqueado no domingo durante uma angariação de fundos para fins humanitários. Pawel​ Adamowicz foi atacado em palco por um homem que afirmou ter sido “aprisionado injustamente” pela Plataforma Cívica. Mas foi condenado por crimes comuns – assalto a um banco.

Apesar de ter sido levado para o hospital, o autarca acabaria por não resistir aos ferimentos, falecendo na segunda-feira.

Pawel Adamowicz era um político liberal muito popular e nas eleições do ano passado fora reeleito com 65% dos votos. Era, no entanto, um alvo para os grupos de extrema-direita, por defender imigrantes, refugiados e os direitos de homossexuais e transexuais.

Foi um dos que deu apoio à campanha em defesa do Estado de Direito na Polónia, contrariando os esforços do actual Governo para aumentar o controlo sobre o aparelho judicial.

Embora não existam indícios claros de que se tratou de um crime com motivações políticas claras – mas​ antes um acto de um desequilibrado – este assassínio está a ser encarado como um sinal do que pode acontecer quando se cria um clima de ódio e radicalização.

Segundo a Reuters, as autoridades polacas detiveram dez pessoas nos últimos dias, por causa de apelos nos media à morte ou agressão de outras pessoas, na sequência do homicídio de Adamowicz.

Adamowicz, na verdade, era um dos 11 presidentes de câmara polacos para os quais a organização de extrema-direita Juventude Polaca tinha emitido certificados de óbito falsos em 2017, depois de estes autarcas terem assinado uma declaração de boas-vindas aos refugiados – uma posição diametralmente oposta à da política seguida pelo Governo do Partido da Lei e Justiça (PiS).

O apoio ao PiS desceu de 33% em Novembro para 30% esta semana, após o assassínio de Adamowicz, revela uma sondagem Kantar Millward Brown, citada pela Reuters. A Plataforma Cívica mantém-se nos 25%.

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