Aveiro vai viver este ano ao ritmo das betoneiras e picaretas
A antiga Estrada Nacional 109 vai ser um dos locais mais afectados, tanto na zona do Glicínias como a Norte da sede do município. São mais de 20 as obras previstas para este ano.
O aviso chegou assim que a cidade deu por concluído o seu programa festivo: a antiga estação da CP ia entrar, imediatamente, em obras e o edifício Fernando Távora também. Duas empreitadas logo aos primeiros dias de um ano que vai ser “muito obreiro”. Palavras do próprio presidente da câmara municipal de Aveiro, Ribau Esteves, confirmadas pelo número de obras previstas para este ano de 2019, dentro e fora da cidade. São mais de 20, mas há umas quantas que prometem ser especialmente sentidas pela população pelos transtornos que irão causar. Exemplos? A ex-Estrada Nacional (EN) 109, que passou a receber ainda mais tráfego com a introdução de portagens nas antigas Scut, vai sofrer intervenções a Norte e a Sul do centro da cidade. E se tudo correr conforme previsto, a Avenida Dr. Lourenço Peixinho também entrará em obras ao longo deste ano.
Ainda que deixe a garantia de que a equipa camarária tudo fará para minimizar os impactos negativos de cada uma das obras previstas, Ribau Esteves reconhece que “algumas” das intervenções vão “causar incómodos nas rotinas dos cidadãos”. Mas com essa promessa: “a realidade que as pessoas irão ter depois da obra concluída é muito melhor do que a anterior à empreitada”.
Em causa está um total de investimento que anda “muito próximo dos 50 milhões de euros”, com obras previstas em vários pontos do concelho. E porquê esta grande concentração num só ano? “A nossa câmara teve, até Abril de 2017, muitas limitações na tipologia de despesa que podia fazer”, recorda o líder da autarquia que teve de pedir ajuda financeira ao Fundo de Apoio Municipal. “Só a partir dessa data é que começamos a cumprir a Lei dos Compromissos e a ter possibilidade de lançar uma série de projectos”, prossegue, recordando que “entre fazer concursos para projectos, execução de projectos e concursos para as obras passaram, assim, quase dois anos”.
A oposição socialista (ver texto ao lado) tem uma opinião diferente, mas o presidente da edilidade aveirense assegura que esta grande quantidade de obras resulta apenas dessa limitação a que a câmara este sujeita. Sem esquecer que este ritmo “obreiro” não se esgota ao ano que acaba de iniciar. “O ano de 2020 vai continuar a ser de grande investimento, ainda que inferior ao de 2019”, sublinha Ribau Esteves.
Antiga EN 109 ganha novas rotundas
Entre o rol de empreitadas que estão previstas para este ano conta-se, então, a requalificação da antiga EN 109 na zona do Glicínias, cujo arranque acontecerá ainda neste primeiro trimestre e que envolverá várias obras distintas – nomeadamente o alargamento do tabuleiro da 109 na passagem superior sobre a Linha do Norte e a reestruturação do cruzamento da ex-EN109 com a EN235.
Intervenções que resultam da ampliação do Centro Comercial Glicínias - razão pela qual são suportadas (1,5 milhões de euros) pelo promotor do investimento – e que irão estender-se ao longo de um ano (prazo total; cada uma delas tem um prazo específico). A estas juntar-se-á, ali bem próximo, junto ao antigo matadouro, a construção da rotunda do Mercadona – mais uma obra que será custeada por privados, passando, depois, para a autarquia.
Também nesta estrada, mas na zona Norte, a autarquia irá construir duas novas rotundas: uma em Cacia, junto à Vulcano; e outra em Esgueira, junto ao Solar das Estátuas.
Novo acesso à Universidade
No centro da cidade, também estão previstas várias intervenções, sendo que algumas delas já arrancaram ainda nas últimas semanas ou dias de 2018. É o caso do novo acesso à Universidade de Aveiro, com a criação de uma rotunda junto ao ISCA – Instituto Superior de Contabilidade e Administração (objectivo: reduzir o atravessamento automóvel e melhorar as condições para os peões e ciclistas) e que deverá estender-se até ao mês de Maio. Também em curso, e já na recta final, está a reabilitação do Canal dos Botirões, junto à Praça do Peixe, além das já referenciadas empreitadas da antiga estação de comboios e do edifício Fernando Távora. Arrancaram ambas no passado dia 15, sendo que a primeira tem um prazo de execução de 450 dias e irá transformar a antiga estação - preservando a sua arquitectura exterior -, numa espécie de sala de visitas da cidade (com promoção e venda de produtos identitários e criação de salas polivalentes). Já o Edifício Fernando Távora irá estar em obras um ano, a fim de receber os serviços de Biblioteca, bem como criar um espaço de apoio aos investidores e aos empreendedores.
O calendário de obras da câmara de Aveiro aponta ainda para este ano, mais concretamente para o segundo semestre, o arranque da requalificação da Avenida Dr. Lourenço Peixinho, sem dúvida uma das intervenções que terá maiores impactos para quem vive e trabalha no centro da cidade. É a artéria onde se concentra grande parte do comércio, bancos e outros serviços, funcionando também como principal via de ligação entre a zona da Ponte-praça e a estação de comboios – sendo que, nesta última, irá decorrer outras das obras previstas para 2019: a construção de um novo parque de estacionamento.
E ainda no que toca ao coração da cidade, importa não esquecer que está na calha a tão propalada intervenção no Rossio, com a criação de um espaço público polivalente (tipo praça central), com parque de estacionamento, e zonas de recreio e de lazer. A actual maioria PSD/CDS-PP estima poder avançar com a obra ainda no final deste ano ou no início de 2020, mas a verdade é que, por esta altura, ainda se está a discutir a primeira versão do estudo prévio.
Várias empreitadas em estradas
Entre as obras já iniciadas, e que irão estender-se ao longo deste ano, contam-se, igualmente, a reabilitação da ligação Eixo-Aveiro (antiga EN230), a requalificação da Rua do Clube dos Galitos e a construção cais dos pescadores de São Jacinto. Com início previsto para breve está a reabilitação das Rua Direita, em Aradas - já adjudicada, pelo valor de 198.600 euros -, Rua Capitão Lebre, no centro de Verdemilho; e a Estrada de São Bernardo.
No centro da cidade, também serão várias as artérias a receberem trabalhos de qualificação, obrigando a desvios de trânsito temporários. A reabilitação das ruas do Gravito e do Carmo, bem no centro, é uma das intervenções projectadas e com um prazo de 300 dias. A empreitada incidirá na pavimentação, nos passeios públicos, na rede de águas pluviais e na iluminação pública, desenvolvendo-se em três fases distintas, por forma a garantir uma melhor circulação, segurança e conforto.
2019 deverá ficar também marcado pela qualificação da “estrada-dique” - arruamento que faz a ligação ao Centro Municipal de Interpretação Ambiental (CMI) e à Marinha da Troncalhada – e da Rua da Pega, junto à Universidade de Aveiro.
E tudo isto sem contar com os investimentos privados já dados por adquiridos em Aveiro, nomeadamente, a construção do primeiro hotel de cinco estrelas da cidade, no Palácio de Valdemouro, na Rua José Estêvão, bem no centro. Ribau Esteves já deu nota pública de que estão mais dois hotéis de cinco estrelas na calha, um na zona dos antigos armazéns Bóia e Irmão e outro nas antigas instalações do Banco de Portugal.
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Timing tem a ver com o “calendário eleitoral”
Para a oposição socialista não restam dúvidas que esta grande concentração de obras em 2019 se fica a dever ao calendário eleitoral. “Há tanto tempo que estes projectos estão aprovados e só agora avançam. É óbvio que é para, daqui a dois anos, estar uma bandeira à vista próxima das eleições”, critica Manuel de Oliveira Sousa, vereador do PS na câmara de Aveiro.
O também líder da comissão política concelhia socialista mostra-se preocupado com o impacto de tanta obra na vida da população, fazendo eco daquilo que garante andar a ouvir da boca de várias pessoas: “que a cidade e o município fiquem de pantanas”. “É preciso minimizar o incómodo destas intervenções na vida das pessoas”, sublinha.
Manuel de Oliveira Sousa considera ainda essencial que todas estas obras – e outras mais que possam estar a ser projectadas – “obedeçam a uma estratégia global para o município”, algo que os socialistas garantem não ter conseguido ainda vislumbrar.