O nosso fim de ano na China

O leitor José P. Costa partilha a sua experiência no país asiático.

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Nicky Loh/Reuters

Ni hao. Olá em chinês. 

Ao chegar a Pequim, tenho para mim que fomos abençoados com um sol esplendoroso, mas, convém registar, estavam três graus negativos e à noite a temperatura baixava para os -12. Ouso, na Praça de Tiananmen, reverter em pensamento esta inclemência, recordando o calor que se terá verificado quando das manifestações ocorridas naquele enorme espaço em 1989.

Faço desde já a ressalva de que não nos iremos intrometer nos assuntos dos chineses, cujo povo, entretanto, se viu livre do poder vil, encetando com novo alento um rápido crescimento nos diferentes aspectos, o que tem suscitado inúmeras preocupações a nível mundial.

Sinal de que deveremos agir consoante as nossas capacidades, e idades, sobretudo ao chegarmos à Grande Muralha, na zona de Badaling, construída por várias dinastias ao longo de dois impérios, para proteger as regiões agrícolas sedentárias do interior chinês das incursões dos pastores nómadas das estepes do Norte, particularmente os hunos. Nós subimos até ao meio.

Ir à China ver o mundo a mudar

Daquela altitude descemos e depois visitámos o Palácio Imperial construído entre 1406 e 1420, e que serviu de palácio às dinastias Ming e Qing, seguindo-se a visita ao Templo do Céu, construído pelos imperadores daquelas dinastias e classificado pela UNESCO como Património da Humanidade. São dois locais de uma beleza extrema que nos deixou uma primeira ideia do que nos iria esperar nesta viagem.

Após novo voo, em nova cidade, agora em Xian, visitámos o Grande Pagode do Ganso Selvagem, com mais de 60 metros. Por esta altura, começam os preparativos para o nosso final de ano, mas que os chineses também partilhavam, mais como um aproveitamento comercial, sinal bem evidente nas muitas ruas iluminadas.

Dadas as diferenças horárias, quando lá era meia-noite, em Portugal ainda eram 16 horas, mas às oito horas da manhã locais comemorámos a nossa passagem de ano.

Ufano me senti após a visita ao Museu do Exército dos Guerreiros de Terracota, também Património da Humanidade, o qual consiste, neste momento, já que continuam a explorar, em mais de 7000 figuras de terracota de guerreiros, cavalos, carros e armas que serviam para guardar o imperador, local único e ímpar.

Partimos depois para Guilin, e, aí sim, participámos num cruzeiro pelo rio Li, desfrutando da maravilhosa e idílica natureza, cuja beleza é, talvez, aquela que melhor representa a ideia de paisagem típica chinesa. Esta certeza é devida pelos seus lagos, planícies e suaves colinas reverdescentes, através de uma sucessão de picos, todos com nome descritivo, de que salientamos as Colina do Pincel, Colina da Luta de Galos, Desfiladeiro dos Bois, Cabeças de Cavalo, Colina dos Bordados.

Embarcados, à noite, para um novo cruzeiro, nos melodiosos e engalanados lagos de Guilin. Para ficar bem guardado na memória, recordações tangíveis que retemos da Gruta da Flauta de Cana, com um espectáculo de luzes, cores e formas, com estalactites e estalagmites banhadas por um lago interior, cuja visita nos deixou deveras extasiados.

Chegados a Xangai, a temperatura era alta, 12º!, como alta era a expectativa, e altas as torres dos edifícios, de empresas de negócios, hotéis e habitações, nesta cidade moderna e aberta aos grandes contactos internacionais, com mais de 20 milhões de habitantes. Esta urbe, a maior da China, é dividida pelos braços dos rios Yangtsé e Huangpu. No Templo do Buda de Jade pudemos admirar inúmeras imagens resplandecentes. Cientes e mais conscientes ficámos também com a arte chinesa em termos de jardinagem, ao visitar o jardim Yuyuan, também conhecido como jardim do Mandarim.

À noite, à volta da mesa, vinha à baila a gastronomia chinesa, pela repetição do arroz “tipo betão armado”, das sopas aguadas que constavam dos menus. Não estamos seguros de não ter degustado carne de cão, dados os condimentos, e, assim, não o podemos afiançar a 100%. Sinto, por momentos, uma náusea…

Passear pelas ruas pejadas de gente, também em compras de permanente e universal regatear, foi outra forma de conhecer aquele país. Quis a dita que viajássemos entre a sumptuosidade e grandiosidade da arte dos palácios e museus, passando por locais idílicos, até à mais profunda e sentida espiritualidade. Retivemos igualmente a arte, a poesia e a magia dos vários espectáculos a que assistimos e fruímos, que os chineses cultivam e mostram profusamente. 

Minto se não deixar de registar o quanto me encantou esta viagem, diversificada, e dada a natural diferença de culturas e maneiras de ser, acabou por ser uma agradável e inesquecível surpresa, pelo que, obviamente, em encómios não sou parco. Porco é o nome do novo ano chinês que em 5 de de Fevereiro vai começar.

José P. Costa 

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