Pais e directores defendem mudanças curriculares para combater insucesso no 1.º ciclo

Programas extensos e pouca articulação com as famílias, defendem, podem explicar que em distritos como Beja e Faro 22% das crianças chumbem pelo menos uma vez até ao 4.º ano.

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NELSON GARRIDO

Pais e directores de escolas públicas entendem que são necessárias mudanças curriculares no 1.º ciclo do ensino básico para reduzir os indicadores de insucesso nos primeiros anos do percurso escolar dos alunos. Os programas são demasiado extensos e há pouca articulação com as famílias, defendem.

Um novo indicador divulgado nesta quarta-feira pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), que pode ser consultado no portal InfoEscolas, mostra que pelo menos 11% dos alunos de cada um dos distritos do país chumba uma ou mais vezes durante o 1.º ciclo do ensino básico. Nos casos de Beja e Faro 22% das crianças que se inscreveram na escola pela primeira vez em 2013/14, não chegaram ao final do 4.º ano nos quatro anos previstos, isto é, no ano lectivo 2016/17.

Para os presidentes das duas associações de directores de escolas públicas, os currículos dos primeiros anos de escolaridade são “excessivamente extensos” o que dificulta o sucesso escolar. “Na Matemática, por exemplo, não há tempo para quase nada. Não se conseguem consolidar competências”, afirma Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares.

“Os professores queixam-se muito de que não têm tempo”, confirma Filinto Lima, que lidera a Associação Nacional de Directores de Agrupamentos de Escolas Públicas. Além de extensos, os currículos são também “complexos”, acrescenta, “ao ponto de alguns pais demonstrarem dificuldade em explicar aos filhos matérias de Português e Matemática”.

O presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Jorge Ascenção também propõe mudanças no “modelo pedagógico” do 1.º ciclo, apontando o exemplo das Actividades de Enriquecimento Curricular que estão “a ser tratadas como um acessório para a ocupação do tempo das crianças” em lugar de serem vistas como parte de um “projecto integrado de sucesso” escolar.

Outra mudança necessária é na articulação entre a escola e as famílias, defende o presidente da Confap. “Há um desligamento”, diz, o que é particularmente crítico no 1.º ciclo, onde os alunos estão a viver uma transição “difícil” para a sala de aula.

Papel das famílias é "fundamental"

O papel das famílias é visto como “fundamental” por Carlos Luís, director do agrupamento de escolas João de Deus, em Faro, um dos distritos com pior desempenho nos indicadores divulgados pela DGEEC. “Faz toda a diferença a forma como os pais olham para a importância da escola na vida dos filhos”, considera, algo que ajuda a perceber o desempenho do Algarve no 1.º ciclo.

A região é “heterogénea” e com uma parte significativa da população a viver em zonas rurais: “Nas zonas mais isoladas, há uma menor valorização da escola, o que tem efeito nos resultados dos alunos”.

O PÚBLICO tentou ouvir os directores dos dois agrupamentos de escolas de Beja, mas não foi possível o contacto com ambos, para saber da sua posição sobre o desempenho das escolas do 1º ciclo do ensino básico.

Em Lisboa – onde só 82% dos alunos conseguiram acabar o 1.º ciclo em quatro anos, colocando o distrito em 13.º lugar – não é a ruralidade a afectar o comportamento das famílias, mas antes aquilo que Dulce Chagas, directora do agrupamento de escolas de Alvalade, chama de “efeito da grande cidade”. “Há miúdos que chegam ao 1.º ano muito pouco estimulados, porque as famílias não sabem ou não podem, seja por dificuldades socioeconómicas, ou porque não têm tempo”, afirma.

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