Casado olha para o passado para construir o PP do futuro

O primeiro congresso do novo líder do Partido Popular procura recalibrar o partido ideologicamente face às ameaças do Cidadãos e do Vox.

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Pablo Casado quer um corte radical com o passado recente do PP Juan Medina/REUTERS

O Partido Popular celebra este fim-de-semana em Madrid o primeiro congresso nacional desde que Pablo Casado chegou à liderança. Do encontro, descrito pelo líder como um “rearmamento ideológico”, deverá sair um partido com um programa mais definido para tentar encontrar espaço no engarrafamento em que se transformou o sistema partidário espanhol. Até o hino vai ter uma nova versão.

Por estes dias, a imprensa espanhola recorda as palavras de Manuel Fraga, no congresso de refundação do partido, em 1989. “Sei que a muitos de vós o coração está em sangue. O meu também sangra. Mas chegou o momento de mudar de nome. Aliança Popular irá chamar-se Partido Popular, essa é a minha decisão.” As bases lançadas há 30 anos por Fraga foram determinantes para a recomposição do sistema político espanhol, uma década depois do fim da ditadura de Francisco Franco. A refundação do PP abriu caminho à liderança de José María Aznar e a um dos períodos mais bem-sucedidos do centro-direita espanhol.

Pablo Casado, que tinha oito anos quando o PP mudou de nome, fez questão de fazer coincidir o seu primeiro congresso como líder com o 30.º aniversário da proclamação de Fraga. Tal como em 1989 – quando o PSOE liderado por Felipe González ganhava eleição atrás de eleição – também agora os tempos são difíceis para os populares.

As ondas de choque do caso Bárcenas – que revelou um esquema de tesouraria ilegal no partido, durante vários anos e envolvendo alguns dos seus principais dirigentes – abalaram as fundações do PP e deixaram um manto de descredibilização. O sucesso do Cidadãos, com um programa muito baseado na luta contra a corrupção, a partir de 2015 representou a primeira repercussão.

O fenómeno mais recente é a emergência do Vox, um partido de extrema-direita fundado por ex-militantes do PP, que entrou de rompante no parlamento andaluz e, apesar de não fazer parte da coligação que tomou posse esta semana, tornou-se imprescindível para a governação. No partido, alguns dirigentes olharam com inquietação para a forma como Casado se sentiu confortável em sentar-se com a extrema-direita e até como adoptou algumas das suas posições.

A verdade é que o acordo fechado com o Vox permitiu que pela primeira vez o governo andaluz fosse liderado pelo PP e Casado não afastou a possibilidade de repetir a fórmula noutras regiões.

A ameaça eleitoral que o Vox já representa é uma das preocupações dos dirigentes do PP. Numa carta enviada aos militantes na véspera do congresso, Casado fez a defesa de “uma Espanha europeia e activamente europeísta, uma Espanha autonómica e activamente autonomista”, em contraponto com “a demagogia e o panfletário” daquilo a que chamou “anti-política”, numa clara referência ao Vox.

A refundação de Casado passa também por um corte radical com o passado recente do PP. Na agenda do congresso, que acaba no domingo com o discurso do líder, destaca-se a grande quantidade de personalidades de fora do partido convidadas a apresentar propostas programáticas. Entre estes estão activistas catalães contra o independentismo, economistas liberais e até escritores como o peruano Mario Vargas Llosa.

Casado quer um PP diferente daquilo que foi com Mariano Rajoy e mais próximo do de Aznar – que irá discursar este fim-de-semana –, o que significa um regresso às bases ideológicos do liberalismo e do conservadorismo, e o abandono de uma postura mais pragmática, escreve o jornal El Español. “Actualmente, o voto dos espanhóis é um voto por rejeição, e deve voltar a ser um voto por convicção, assertivo, entusiasmado, nem defensivo nem resignado”, escreveu Casado na mesma carta.

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