“O contexto é grave e o tempo limitado”, diz negociador europeu para o "Brexit"

Michel Barnier pede ao Reino Unido que diga rapidamente o que pretende e apela à calma e união da EU. Portugal está “alinhado” com instituições europeias, afirma Costa.

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Michel Barnier foi condecorado pelo Presidente da República antes do Conselho de Estado LUSA/ANTONIO PEDRO SANTOS

No dia seguinte ao “chumbo” do acordo para o Brexit pelo parlamento britânico, o negociador europeu para a saída do Reino Unido da União Europeia apelou aos britânicos para que não demorem a dizer o que pretendem fazer agora. "O contexto é grave e o tempo limitado. O relógio está a contar", disse Michel Barnier à imprensa em Lisboa, após um encontro com o primeiro-ministro português, António Costa.

"É responsabilidade dos deputados britânicos, do Governo britânico, dizer o que pensam deste acordo que negociámos juntos. Esperamos que, após o diálogo político, May nos diga como vão ser as coisas", afirmou. "Vamos manter-nos calmos e unidos", acrescentou.

Depois de ter afirmado na Assembleia da República, durante a manhã, que "se o Reino Unido mexer nas linhas vermelhas, a União Europeia mexe imediatamente", Barnier voltou a frisar que a relação futura entre a UE e o Reino Unido será tão ambiciosa quanto Londres quiser. "Se o Reino Unido quer uma relação económica mais ambiciosa do que a que está inscrita na declaração política, é possível. Estamos abertos", disse.

Portugal e UE alinhados

António Costa secundou esta mensagem, afirmando a disponibilidade de Portugal, como dos restantes Estados-membros, para uma relação mais ambiciosa, ou até mesmo para inverter o processo e permanecer na União: "Tudo o que o Reino Unido queira para ficar na UE ou ter a relação mais ampla possível com a UE, obviamente é bem-vindo e não terá nenhuma oposição", acrescentou.

Na sua declaração inicial, o primeiro-ministro quis vincar o total alinhamento político de Portugal em relação às instituições europeias no que respeita às negociações em torno do processo de saída do Reino Unido. "Portugal reafirma a total confiança na forma como Michel Barnier tem conduzido todo este processo negocial”, afirmou.

Sobre o acordo de saída em si, no entanto, tanto Costa como Barnier frisaram que ele "é o melhor possível" que podia ser obtido após uma negociação "extraordinária e complexa" com Londres.

Depois do encontro com António Costa, Barnier foi condecorado pelo Presidente da República antes de participar na reunião do Conselho de Estado, para a qual foi convidado pelo Presidente da República antes da votação do "Brexit" no parlamento britânico. No dia da confirmação do “chumbo”, Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se ainda mais preocupado com a decisão.

"Tudo o que seja uma saída sem acordo é uma saída quase caótica e de consequências muito negativas para as duas partes, e com repercussão obviamente a nível mais amplo, económico e financeiro internacional", declarou, sublinhando as interdependências entre a UE e o Reino Unido em muitos domínios.

Por isso, "a posição portuguesa – o Governo já o disse e o Presidente da República apoia – é de tudo fazer para que haja um acordo entre o Reino Unido e a União Europeia", salientou. "Isso significa fazer mesmo tudo que esteja ao alcance, dentro da unidade da UE, para proporcionar as melhores condições para que o Reino Unido, o mais rápido possível, poder votar livremente a um acordo connosco, com a União Europeia", afirmou.

Marcelo aproveitou também para deixar tranquilidade aos portugueses que vivem no Reino Unido, e aos britânicos que vivem em Portugal: "Portugal já disse que em todas as circunstâncias, tudo fará para que, naquilo que dependa de nós, autoridades portuguesas, sejam garantidos os direitos dos britânicos em Portugal e, por isso também dos portugueses no Reino Unido". Nesta quinta-feira, o Conselho de Ministros aprovou o plano de contingência em caso de um Brexit desordenado.

O Presidente da República anunciou também que vai convocar uma reunião do Conselho de Estado para 1 de Março, com a directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, para debater as repercussões mundiais do 'Brexit'.

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