2009 vs 2019: a Internet decidiu analisar a década com pares de fotografias

Fenómeno deu azo a publicações de cariz pessoal, político e humorístico. Fomentou reflexões na imprensa. E ainda levantou a suspeita de que pode estar a ser aproveitada pelo Facebook.

Foto
Graças aos telemóveis, os últimos anos foram sobejamente fotografados Charles Platiau/Reuters

A tecnologia tornou a nostalgia mais fácil, e a mais recente prova disso espalhou-se nos últimos dias pelas redes sociais, onde muitas pessoas estão a comparar fotografias suas actuais e de há dez anos.

As publicações são feitas no Facebook, no Twitter e no Instagram, muitas vezes assinaladas com hashtags como #2009vs2019 e #10yearchallenge (“desafio dos dez anos”). As hashtags permitem agrupar publicações em redes sociais e identificá-las como fazendo parte do mesmo tema.

A ideia inicial parecia ser a de que os utilizadores publicassem uma fotografia sua de 2009 e outra de 2019, eventualmente acompanhada de uma reflexão sobre a passagem do tempo e as suas próprias vidas.

Porém, o fenómeno deu rapidamente origem a todo o tipo de variações, desde as humorísticas, às de conotação política.

Há múltiplas referências às alterações climáticas. No Twitter, uma publicação de um utilizador chamado Mrunal Gaonkar é uma de várias a mostrar uma fotografia de um urso polar de aspecto saudável e outra com um urso aparentemente subnutrido. Outros pares de imagens ilustram o degelo no árctico. 

Foram ainda publicadas imagens de locais destruídos por conflitos armados na última década (como é o caso da Síria), outras a mostrar a evolução dos telemóveis, e muitas relativas a conquistas desportivas de vários clubes em várias modalidades.

Também há quem esteja a recuar muito mais do que apenas dez anos: o actor Samuel L. Jackson, por exemplo, publicou no Instagram uma foto sua de 1969, quando tinha 20 ou 21 anos, e outra mais recente, acompanhadas da hashtag #lifewasgoodthenandstillis (“a vida era boa e ainda é”).

De acordo com o popular site Know Your Meme, uma plataforma colaborativa dedicada a tentar explicar este tipo de fenómenos online, o desafio dos dez anos começou no Facebook e uma das primeiras publicações do género foi feita a 11 de Janeiro por um meteorologista americano chamado Damon Lane. 

O #10yearchallenge também deu azo a um bom número de artigos a reflectir sobre como as redes sociais, e a tecnologia em geral, mudaram o quotidiano e permitem facilmente evocar e partilhar memórias (como, em parte, acontece com este artigo do PÚBLICO). A revista Wired classificou a torrente de retrospectivas como “um presente dos nossos smartphones”. O site The Verge  considerou que o desafio lembra "como o Facebook costumava ser divertido".

Por outro lado, espelhando a desconfiança que existe em 2019 face aos gigantes tecnológicos, também se disseminou a percepção de que a ideia de que pôr milhares de pessoas a comparar fotografias poderá ser uma forma perversa de o Facebook obter material para os seus algoritmos de reconhecimento facial. De acordo com esta teoria, a rede social teria assim a vida facilitada, já que muitos utilizadores estariam dispostos a catalogar voluntariamente as suas imagens, ajudando os programas de computador a perceber os efeitos do envelhecimento. 

Uma utilizadora do Twitter chamada Kate O’Neill (que se define como autora e como alguém que está “a ajudar a Humanidade a preparar-se para um futuro moldado pela tecnologia” ) escreveu: "Eu há 10 anos: provavelmente teria alinhado no meme da fotografia de perfil envelhecida que anda pelo Facebook e Instagram. Eu agora: penso se todos estes dados podem ser usados para treinar algoritmos de reconhecimento facial no que diz respeito a avanço da idade e reconhecimento de idade.” 

A publicação acabou por dar origem a um artigo de opinião na Wired partilhado quase seis mil vezes. Muitos comentários notavam que empresas como o Facebook já têm algoritmos suficientemente sofisticados para não precisarem de recorrer a estas imagens.

O sucesso do #10yearchallenge veio também mostrar a capacidade das redes sociais para amplificarem todo o tipo de fenómenos. Surge precisamente na mesma altura em que a fotografia de um ovo se tornou na publicação mais popular de sempre do Instagram.

Sugerir correcção
Comentar