Rio perde dois apoiantes e tem Montenegro à espreita

Resultados da votação são imprevisíveis, mas, mesmo que o líder vença, há quem não veja o PSD pacificado.

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Menezes sempre foi um adversário de Rio. Aguiar-Branco foi presidente da Assembleia Municipal do Porto com Rio na presidência da câmara FERNANDO VELUDO/ NFACTOS
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Rui Rio em 2009, a ser empossado pelo presidente da Assembleia Municipal do Porto, José Pedro Aguiar-Branco, para o terceiro e último mandato como presidente da câmara NFACTOS/Fernando Veludo
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Rui Rio em 2009, a ser empossado pelo presidente da Assembleia Municipal do Porto, José Pedro Aguiar-Branco, para o terceiro e último mandato como presidente da câmara NFACTOS/Fernando Veludo

O líder do PSD sofreu duas baixas entre os seus apoiantes. José Pedro Aguiar-Branco, que era próximo de Rui Rio há décadas, bateu com a porta e até renunciou ao mandato de deputado. O outro apoiante que assumiu a desilusão foi o vice-presidente da distrital de Faro, Cristóvão Norte. Na véspera de um conselho nacional que é decisivo para Rui Rio coloca-se a questão da presença de Luís Montenegro, que desafiou a actual liderança mas que não tem assento naquele órgão. No PSD, há quem não acredite que o partido fique pacificado mesmo que Rio veja a sua moção de confiança aprovada.

Com as contas muito difíceis de fazer quanto ao resultado da votação no conselho nacional extraordinário desta quinta-feira, sociais-democratas ouvidos pelo PÚBLICO não prevêem uma pacificação do partido que dure muito tempo, mesmo que a moção de confiança na actual direcção seja aprovada. O próximo momento de sobressalto pode ser logo após as eleições europeias, caso o resultado seja fraco. Até porque o que Luís Montenegro defendeu foram eleições directas para a liderança do partido. 

Depois de há alguns meses ter já criticado Rui Rio, numa sessão com militantes no Porto, Aguiar-Branco assumiu agora a ruptura com a estratégia do líder. “O PSD não pode ter como objectivo central os acordos de regime com o PS, como parece ser, isto não faz sentido”, disse ao Expresso, considerando que a situação do partido “justifica o desafio” lançado por Luís Montenegro. Para deixar bem claro que a sua posição não tem a ver com lugares – como tem argumentado Rio acerca dos críticos –, Aguiar-Branco anunciou que renuncia ao mandato de deputado e já não será candidato nas próximas legislativas.

O social-democrata disputou as autárquicas de 2005 ao lado de Rui Rio, tendo sido eleito e exercido o mandato de presidente da Assembleia Municipal do Porto quando o actual líder do PSD era presidente da câmara.

Cristóvão Norte foi outro deputado que apoiou Rio nas directas e até é membro do Conselho Estratégico Nacional, mas veio assumir nesta quarta-feira a "desilusão" sobre a liderança de Rui Rio, defendendo que é “hora da clarificação”.

Do lado dos apoios a Rio, o líder teve a declaração do presidente do Governo Regional da Madeira. Miguel Albuquerque assume que vai faltar ao Conselho de Estado, órgão no qual também tem assento, para poder estar presente no conselho nacional (acompanhado por mais três representantes madeirenses) para votar a favor da moção de confiança. “Estamos a desviar o foco do problema. O PSD tem de ser alternativa à governação das esquerdas em Portugal", disse Miguel Albuquerque ao PÚBLICO, a dois dias do congresso do PSD-Madeira.

Não será apenas o Conselho de Estado a ficar com uma cadeira vazia. A bancada parlamentar deverá ter várias esta quinta-feira à tarde, já que os deputados podem participar no conselho nacional, embora não tenham direito de voto (só têm os que são presidentes de distritais). Os apoiantes de Montenegro querem que o ex-líder da bancada possa falar aos conselheiros nacionais para ficar em pé de igualdade com Rui Rio. Esse requerimento foi mesmo enviado esta terça-feira à noite por Almeida Henriques, membro da mesa do conselho nacional, ao presidente deste órgão, Paulo Mota Pinto. A tese levou Miguel Relvas a quebrar o silêncio sobre a situação actual do PSD e a defender que Montenegro devia ser “convidado” para estar na reunião. 

Depois de ter desvalorizado o conselho nacional extraordinário para votar uma moção de confiança, Luís Montenegro parece agora estar disponível para intervir nesse órgão.

Com a perspectiva de os trabalhos se prolongarem durante longas horas, o conselho nacional deverá debater-se com a batalha da forma de votação – por braço no ar ou secreta – da moção de confiança. Mota Amaral já terá entregado o requerimento a pedir a votação de braço no ar e nominal, à semelhança do que permite a Assembleia da República.

Já os opositores a Rio defendem que basta o requerimento a pedir uma votação secreta como está estipulado nos estatutos. É assim que se realizam as eleições de secretários-gerais, por exemplo. A batalha jurídica deverá começar neste ponto e pode inquinar toda a reunião. Pedro Pinto, líder da distrital de Lisboa, defende o escrutínio secreto em nome da “transparência e da democracia”. Mas prefere colocar a questão no plano político, desafiando os conselheiros nacionais: “Se acham que a estratégia está correcta, votem a favor de Rui Rio”.

O ex-líder do PSD Luís Filipe Menezes também defende que o voto dos conselheiros nacionais deve ser secreto, sustenta que é possível convidar "actores" que não têm assento no conselho nacional e que a reunião desta quinta-feira deve ser aberta à comunicação social, como os congressos. Numa carta enviada ao presidente da mesa do conselho nacional, Menezes, sem revelar a sua posição sobre o que está em apreciação,​ pede a Paulo Mota Pinto que seja “o guardião dos valores ancestrais do PSD”.

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